Boa Midia

(Fr) – Vultos da Fronteira

Padre Geraldo

Padre Geraldo em 2008

Fronteira Brasil-Bolívia, município de Vila Bela da Santíssima Trindade, 22 de setembro de 2008. Aguardo para ser recebido pelo padre da igrejinha da vila Santa Clara do Guaporé, que antes se chamava Ponta do Aterro. A espera foi curta. Em tom humilde e arrastando o mais puro sotaque cacerense o sacerdote me estende a mão. Nossa conversa foi curta e objetiva. Queria ouvi-lo sobre a onda de invasão de terra naquela região e a proposta de criação de um território para índios chiquitanos naquela área. Não aceitava um nem engolia o outro. Isso mesmo! Padre Geraldo bateu o pé contra ambas as propostas.

 

Fiquei surpreso. Um padre católico, na fronteira, rodeado por organizações não governamentais e ambientalistas manter aquele tipo de postura parecia surreal.

O tempo de padre Geraldo era curto. Além da evangelização ele desenvolvia intenso trabalho social. Mesmo assim, conversou comigo sem demonstrar pressa pra botar fim à entrevista.

À época padre Geraldo tinha 76 anos. Agora, 87 , se prepara para celebrar 60 anos de sacerdócio no próximo dia 8 de dezembro e continua em plena atividade sacerdotal, mas em sua cidade natal, Cáceres, onde nasceu no bairro São Miguel, filho do casal Anna Luiza e Joaquim José dos Santos – ela costureira e ele alfaiate. Na pia batismal e no Cartório do Registro Civil recebeu o nome de Geraldo José dos Santos.

Uma vida sacerdotal de 60 anos caracterizada pela humildade e amor ao próximo dividindo o tempo entre a evangelização e a ação social. Esse é o retrospecto de padre Geraldo, um cacerense que na esfera terrestre se pauta pela legalidade, pelo respeito ao direito de propriedade e a valorização de quem trabalha.

Desde a ensolarada segunda-feira, 22 de setembro de 2008 não o vi mais. Tanto tempo depois é hora de reencontrá-lo. Vou me programar pra a festa dos 60 anos de seu sacerdócio, em 8 de dezembro na minha Cáceres.

Eduardo Gomes – Editor de blogdoeduardogomes

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A bela Aline

 

Aline Fontes
Aline Fontes nasceu em Cuiabá, mas logo após o primeiro choro pegou a estrada para Cáceres, a cidade onde passou a infância, juventude e vive sua plenitude de mulher. Só isso? – Não. Na passarela ela conquistou o Título de Miss Mato Grosso em 2017, superando em beleza, charme, encanto e um quê de menina-arrasa mundo as outras 14 concorrentes.

 

A mais bela mato-grossense é um Meu peixe para sua cidade, onde sua família tem tradição política. O avô paterno médico Antônio Fontes, e o pai e advogado Túlio Fontes, foram prefeitos do município, sendo que Túlio também se elegeu deputado estadual.

O fato de ter nascido em Cuiabá não a faz menos cacerense. Boa parte da população é formada por brasileiros de todos os rincões do país e cada dia acontece mais e mais miscigenação com casamentos de gaúchos com pantaneiras, com brasileiros e bolivianas e vice-versa. Num processo antigo, mas que ganhou volume a partir da década de 1970, a Terra de Albuquerque ou Princesinha do Paraguai é uma Babel em expansão.

Ao mesmo tempo em que ganha novos moradores, a cidade também envia cacerenses para outros lugares. Foi assim que o compositor, cantor, músico e pesquisador musical Guapo, que deixou sua Cáceres por Cuiabá, e o mesmo caminho também foi percorrido pelo padre Firmo Pinto Duarte Filho e o ex-deputado estadual Augusto Mário Vieira, ambos não mais entre nós.

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Sinjão

 

João Augusto Capilé Júnior, ou simplesmente Sinjão Capilé, noascido em Rio Brilhante, Mato Grosso do Sul, quando aquele município pertencia a Mato Grosso, passou a infância e juventude em Dourados, de onde mudou-se para Cuiabá em 1961, onde escreveu importante capítulo do desenvolvimento mato-grossense.

 

Sinjão foi prefeito de Dourados (agora Mato Grosso do Sul) no período de 1945 a 1947. Na prefeitura criou a Colônia Municipal, que foi o primeiro projeto de reforma agrária executado no Brasil por um município; essa colônia deu origem ao município de Itaporã.

Em Dourados Sinjão foi um dos fundadores do Jornal O Progresso e seu redator-chefe; o presidente daquele períodico era Weimar Torres e o compositor de artes gráficas Nauristides Brandão; Sinjão usava o pseudônimo de Jota Júnior e assinava a coluna “Aquarela da Vida”.

Nos meios políticos, inicialmente Sinjão militou do PSP do líder paulista Adhemar de Barros. Em 1958 assinou ficha de filiação na UDN e nas asas daquele partido mudou-se para Cuiabá, com a missão de presidir a Comissão de Planejamento da Produção (CPP), que era o braço administrativo do governo mato-grossense. A CPP seria transformada na Companhia de Desenvolvimento do Estado de Mato Grosso (Codemat), estatal extinta numa reforma administrativa nos anos 1990.

Na direção da CPP Sinjão fundou as vilas de Salto do Céu, Rio Branco e Lambari D’Oeste, nos anos de 1962 e 63 e, com isso abriu a primeira frente de colonização na vastidão territorial do município de Cáceres, na região Oeste, faixa de fronteira com a Bolívia.

No final da década de 1960, Salto, Rio Branco e Lambari ganharam impulso com a chegada de centenas de famílias de agricultores mineiros e capixabas. Posteriormente emanciparam-se de Cáceres, preservando seus nomes

Também à frente da CPP Sinjão teve papel de destaque na instalação da primeira usina de açúcar em escala industrial em Mato Grosso, a Usina Jaciara, na cidade do mesmo nome, na região de Rondonópolis.
Sinjão presidiu a Companhia Telefônica e Cuiabá e no exercício do cargo integrou a cidade ao sistema de Discagem Direta à Distância (DDD), conquista tão importante no setor das comunicações quanto a ligação da capital mato-grossense às linhas telegráficas que no início do século passado levaram as impressões digitais do Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon.

Calmo e discreto, nos últimos anos Sinjão lia, tocava violão, cantava e dedicava-se exclusivamente à família, principalmente aos netos, bisnetos e trinetos. Uma de suas filhas, dona Iris Capilé, foi casada com o jornalista João Alves de Oliveira, fundador do jornal Diário de Cuiabá, do qual ela é diretora.

Vítima de complicações pulmonares, aos 99 anos, Sinjão fechou os olhos para sempre em 02 de junho de 2015 no Hospital São Mateus, em Cuiabá. Seu corpo foi velado e sepultado na capital mato-grossense.

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José Medeiros

 

Zelito Dorilêo

 

Zelito Dorilêo
O poconeano José Vicente Dorilêo, o seo “Zelito”, se tornou símbolo do pantaneiro que luta pela preservação do Pantanal Mato-grossense. Fazendeiro, dirigente sindicalista, ecologista e com influência familiar e política, Zelito ocupava espaço na mídia nacional mostrando que o principal componente da região é o homem pantaneiro, sem o qual, o Pantanal não tem razão de ser.

 

Em 13 de janeiro de 1999, aos 67 anos, Zelito fechou os olhos para sempre. Deixou um legado de luta e de exemplo em defesa do Pantanal. Seu trabalho teve reconhecimento oficial: a Assembleia Legislativa aprovou e o governador Dante de Oliveira sancionou um projeto transformado em lei do deputado Paulo Moura, que denominou a Rodovia MT-060, a Transpantaneira, no trecho de 142 quilômetros de Poconé a Porto Jofre, na divisa com Mato Grosso do Sul, de “Rodovia Tranpantaneira Zelito Dorilêo”.

No pátio frontal do Sindicato Rural de Poconé, do qual foi presidente, Zelito ganhou um busto esculpido pelo artista plástico Mando Nunes Pantaneiro, de Rondonópolis, cujo pedestal tem a seguinte inscrição

Deus levou para a eternidade a alma de Zelito Dorilêo, mas nos deixou a obra e a lenda do Homem-mito que era mais do que exemplo a ser seguido em defesa do Pantanal e da pecuária”- Homenagem, reconhecimento e sincera gratidão de seus familiares, amigos e admiradores”.

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Sindicato Rural de Poconé

 

Márcio Lacerda

 

Márcio Lacerda
Advogado descendente de tradicional família de pecuaristas no Pantanal, nascido em Corumba (MS). Militante político e dirigente do PMDB em Cáceres, José Márcio Panoff de Lacerda foi deputado estadual (1979/82), deputado federal (83/86), senador (87/94), vice-governador (95/98) e presidiu a Funai.

 

Márcio Lacerda teve destacado papel na vida pública mato-grossense, mas foi seu trabalho na esfera da diplomacia política que marcou sua atuação parlamentar. Promoveu reuniões, seminários e encontros binacionais tanto em Mato Grosso quanto na Bolívia. Abriu horizontes ao entendimento, ganhou a confiança do povo e das autoridades bolivianas. Criou um corredor na relação internacional no centro do continente.

A Bolívia reconhece o papel de Márcio Lacerda e de seu irmão, o ex-deputado estadual, José Lacerda, que antes de chegar à Assembléia foi vereador e vice-prefeito de Cáceres. O trecho rodoviário de 7 quilômetros que liga a cidade de San Matias à divisa com o Brasil, no Destacamento Militar de Corixa, município de Cáceres, recebeu o nome de “Tramo Hermanos Lacerda”.

O trabalho de Márcio Lacerda na aproximação de Mato Grosso com a Bolívia ganhou simpatizantes dos dois lados da linha imaginária que os povos que vivem naquela região. Delegações de empresários, sindicalistas e autoridades se encarregam de levar adiante a missão iniciada pelo mais destacado político cacerense, que afastado da vida pública permanece junto aos seus em sua cidade natal.

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