João Eloy
Meus amigos, meus inimigos: o cantador de rasqueado João Eloy teve um fim de semana fulgurante. Médico por profissão, cantor e compositor por paixão, o nosso Doutor do Rasqueado espelha as incertezas de quem faz arte regional em MT. Querer viver de cantar rasqueado não é mole, não.
A alegria do João Eloy ficou por conta do sucesso que foi o lançamento do seu DVD na Lua Morena, na noite de sexta pra sábado. Casa lotada, chegou a faltar comida nas mesas, tiveram que correr atrás em plena madrugada – e o baile foi até o sol raiar, com gente dançando ao som de nossa música mais autêntica.
Mas vejam que João Eloy só tem participado de shows que ele mesmo organiza. Não recebe convite para os eventos patrocinados pelas autoridades da Cultura e se queixa da burocracia imensa que cerca este tipo de contratação. Não fosse médico, com situação financeira estável, dificilmente teria condição de continuar cantando e mantendo programa na TV.
Ele me contou que depois de se apresentar no Vem Pra Arena, um tempo atrás, penou mais de seis meses até que fosse pago seu cachê. Aos artistas de fora, o tratamento é outro, já que exigem pagamento adiantado. Tivemos exemplo recente, quando a vinda do Sambô para a festa Lago Sunset esteve por ser suspensa porque os contratantes não haviam depositado a quantia previamente combinada. O grupo só veio depois que o dinheiro, efetivamente, pingou no seu caixa.
E vejam que o João Eloy não é cantador de meia tigela. Tem imenso talento como cantor e compositor e mostrou a qualidade de sua arte neste final de semana quando subiu ao palco junto com o consagrado Alexandre Pires, em evento da Unimed, no Cenarium Rural. Apresentação de improviso, em que o Doutor do Rasqueado tomou conta do show e acabou transformando Alexandre Pires em simples backing vocal para a sua cantoria dançante. Imagino que esse histórico registro deva ser mostrado para todo o público, futuramente, em DVD, confirmando êxito que João Eloy já tivera em apresentações com Sérgio Reis e Roberta Miranda.
A impressão que me fica é de um colonialismo massacrante. A gente aqui, cheia de talentos, tendo que aplaudir artistas de fora – e nossos artistas sem conseguir uma rotina de trabalho que contribua para a melhor estruturação de sua arte. Talvez seja por isso que o Henrique, outro cantador, do trio com Pescuma e Claudinho, esteja falando em abandonar MT e ir tentar a sorte em outras plagas.
Enock Cavalcanti, jornalista e blogueiro, é editor de Cultura do Diário de Cuiabá
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