40 Anos – Juína, município no segundo andar
Dentre os municípios criados após a divisão territorial, Juína é um dos principais
Grande, mas no segundo andar para efeito de atividade econômica. Assim é Juína, um dos mais importantes municípios de Mato Grosso e o segundo em extensão territorial, perdendo em área somente para Colniza, mas engessado por imensas reservas indígenas que ocupam 61% de seu território de 26.189,963 km².
Juína esbarra nas reservas indígenas e, na prática, para os padrões da atividade agropecuária mato-grossense se torna pequeno município. Como se isso não bastasse, existe uma pressão contínua para a expansão de suas terras indígenas.
As terras indígenas ocupam 61% da superfície de Juína, com 13 mil km² pertencentes à etnia Cinta-Larga e 3 mil km² a Enawenê-Nawê. O município tem ainda outra grande área de preservação permanente. É a Estação Ecológica Iquê-Juruena com 188.274,10 hectares (ha).
Em tese, excluindo-se as reservas indígenas e a estação ecológica, o município teria uma área agricultável de 10 mil km², mas na Amazônia Legal a legislação ambiental proíbe o corte raso em 80% da floresta. Com isso, na prática restam 2 mil km² à economia de Juína, dos quais se descontam ainda os perímetros urbanos da cidade e das vilas, os cursos das rodovias, as matas ciliares e as encostas.
Os índios perambulam entre suas reservas e a cidade. É comum encontrar grupos indígenas que buscam atendimento num hospital destinado a eles, nas dependências administrativas da Funai e também nas ruas em perfeita harmonia com os moradores locais. Índios também frequentam escolas urbanas e, mesmo sendo proibido, consomem bebidas alcoólicas.
Mesmo sufocada e sob permanente proposta de aumento das terras indígenas Juína resiste, muito embora sofra consequências do engessamento ambiental que impede a expansão agropecuária e cria instabilidade em propriedades vizinhas às aldeias. graças à força da pecuária representa por um rebanho bovino com 717.246 cabeças de mamando a caducando, em 2.296 propriedades, e do setor mineral, que tem o maior volume de extração do diamante industrial do mundo, o município respira. Com participação bem mais modesta a cafeicultura também ocupa espaço na economia, mas com peso menor que no começo da colonização, quando o cultivo do café Conilon em sítios localizados não muito distantes da cidade aquecia o comércio e gerava renda familiar. O setor madeireiro do município é um dos mais importantes de Mato Grosso, mas nem de longe pode ser comparado à movimentação daquele setor até a década de 1990.
Um dos reflexos da pressão ambiental é a renda per capita de R$ 19.667,04 que fica abaixo da média estadual, de R$ 31.396,81 (a brasileira é de R$ 28.500,24). Se não fosse esse problema Juína receberia mais investidores na agropecuária e na agroindústria, o que resultaria em mais e melhores empregos.
O plano para a construção de Juína nasceu em 1976, do Projeto de Colonização do Alto Rio Aripuanã, de 2 milhões de hectares, no município de Aripuanã, desenvolvido pela Companhia de Desenvolvimento de Mato Grosso (Codemat) – estatal que foi extinta – em parceria com a Superintendência do Desenvolvimento do Centro-Oeste (Sudeco) e o aval do Incra, como parte da proposta do governo militar de promover a ocupação civil da Amazônia sob o bordão “Integrar para não entregar”. Desse projeto derivou-se o Projeto Juína, que em 1977 resultou na construção de uma vila com igual nome à margem da Rodovia AR-1 (Aripuanã 1) numa clareira e com área delimitada de 3 mil ha. O planejamento urbano foi executado pelo engenheiro civil Hilton Campos, da Codemat, que mais tarde seria prefeito e deputado estadual.
Quem idealizou a construção da cidade de Juína foi o governador José Manoel Fontanillas Fragelli. Em sua homenagem o município tem o Distrito de Paz de Fontanillas, à margem do rio Juruena. Foi numa reunião num hotel de madeira em Fontanillas que Fragilli lançou as sementes de Juína.
Nos primórdios o acesso a Juína era feito pela AR-1, que faz a ligação com Vilhena (RO). Essa estrada foi federalizada e se tornou a BR-174, que nasce em Santo Antônio das Lendas, município de Cáceres, avança margeando a fronteira em Pontes e Lacerda e Comodoro, entra em Rondônia por Vilhena, cruza aquele Estado, passa por Juína, Castanheira, Juruena e Colniza, chega ao Amazonas, prossegue até Roraima e termina na divisa com a Venezuela ao lado do Marco BV-8 (Brasil e Venezuela 8), o que em sua fase de construção lhe rendeu o apelido de Rodovia BV-8.
O novo caminho para Juína, via Campo Novo do Parecis, cruza Tangará da serra, o Chapadão do Parecis e o rio Juruena no limite com Brasnorte. Quando de sua abertura, nos anos 1980, recebeu o nome de Rodovia Transmatogrossense. Seu executor foi o governador Júlio Campos e às suas margens surgiram as cidades de Campo Novo do Parecis e Brasnorte. Essa nova rota é pavimentada.
Desde 9 de maio de 1982 Juína é cidade, por força de uma lei de autoria do deputado Oscar Ribeiro e sancionada pelo governador Frederico Campos. O município, na região Noroeste, tem 39.779 habitantes, sua densidade demográfica é de 1,5 habitante por quilômetro quadrado; é sede de comarca de segunda entrância. A cidade dista 730 quilômetros de Cuiabá via Tangará da Serra.
EDUARDO GOMES/blogdoeduardogomes
Fotos:1 EDUARDO GOMES
2 – ARQUIVO
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