Foi bom enquanto durou. A Agrishow Cerrado saiu de Rondonópolis tão silenciosa quanto chegou. Em cinco edições anuais entre 2002 e 2006 foi a maior exposição com dinâmica de máquinas no Centro-Oeste e faturou cifras ainda hoje impensáveis no circuito das exposições agropecuárias e assemelhadas. Além disso, serviu para divulgar nacionalmente o apelido do avião agrícola Ipanema movido a álcool: Lulinha.
Durante cinco anos a Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos Agrícolas (Abimaq) promoveu a Agrishow Cerrado em parceria com a Fundação de Apoio à Pesquisa Agropecuária de Mato Grosso (Fundação MT), no Parque de Exposições Governador Wilmar Peres de Farias, em Rondonópolis. O nome Agrishow Cerrado é variação regionalizada da Feira Internacional de Tecnologia Agrícola em Ação (Agrishow) de Ribeirão Preto, no interior paulista.
Nos quatro primeiros anos o faturamento da Agrishow Cerrado foi crescente. Em 2005 o presidente da Fundação MT, Hugo Ribeiro, revelou na coletiva ao final do evento que os bancos que operaram no recinto acolheram R$ 300 milhões em propostas de produtores rurais e empresas locais, de outros municípios mato-grossenses e de estados do Centro-Oeste e da região Norte.
No auge do crescimento da Agrishow Cerrado, que coincidiu com um período favorável ao fortalecimento e a diversificação do agronegócio em Mato Grosso, a cidade de Rondonópolis ficava pequena para receber expositores, palestrantes, artistas e visitantes. A rede hoteleira não tinha suporte para tamanha demanda, o que resultou na criação da chamada hospedagem alternativa, feita por proprietários de casas que alugavam para a temporada da feira, como acontece em cidades litorâneas e históricas no pico do turismo.
As vizinhas cidades de Jaciara, Juscimeira e Pedra Preta também faturavam no setor de hotelaria, hospedando quem não encontrava leito em Rondonópolis.
Em 2006, com o setor do agronegócio assustado com as nuvens cinzentas de uma crise que era previsível, as vendas da Agrishow Cerrado despencaram. Para preservar a imagem da feira, a Abimaq passou zíper na boca e não revelou o volume vendido nem o montante de propostas de financiamento apresentadas aos bancos.
Abimaq e Fundação MT fizeram coro silencioso por bom tempo, mas nos meios do agronegócio a versão corrente dava conta de que teria acontecido pressão sobre o então governador Blairo Maggi por parte dos municípios que promovem grandes feiras, para botar fim naquele gigantismo que estaria prejudicando a economia em muitos lugares. Coincidência ou não, depois do adeus da Agrishow, Mato Grosso passou a conviver com a Dinâmica de Máquinas, em Porto Alegre do Norte; com a Parecis SuperAgro, em Campo Novo do Parecis; com a Farm Show, em Primavera do Leste etc.
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LULINHA – Em 15 de março de 2005 um produtor rural de Sorriso comprou o primeiro Ipanema a etanol, mas o lançamento desse avião somente aconteceria em 19 de abril daquele ano, na Agrishow Cerrado.
Essa possante máquina voadora foi o primeiro avião no mundo a receber homologação para voar a etanol. Seu motor de 6 cilindros de 300 cv a gasolina ganha mais 20 cv ao ser produzido para abastecimento com o álcool, combustível que não lança poluentes pesados na atmosfera. A diretoria da Neiva o apresentou a autoridades, pilotos e produtores rurais em Rondonópolis.
A Neiva é uma indústria instalada em Botucatu, no interior paulista, e que fabrica o Ipanema na condição de subsidiária da Embraer.
Quem primeiro recebeu informações sobre a máquina voadora movida a álcool, ou etanol – como queiram – foi o então governador Blairo Maggi (agora senador licenciado e ministro da Agricultura). Blairo ouvia atentamente a explanação sobre o avião que dispensava gasolina, quando um piloto agrícola que acompanhava a fala do executivo da Neiva espalhou brasa.
O piloto disse que bem antes, “uns dois ou três anos”, a aviação aeroagrícola mato-grossense já ‘convertia’ ao álcool motores a gasolina, para reduzir o custo operacional do nhaaaaam… nhaaaaam sobre as lavouras e pastagens.
A fala do piloto não causou muita surpresa, porque boa parte dos presentes conhecia tal situação e, alguns até voavam com os motores convertidos ao álcool. O comentário não causou nenhum constrangimento e a explanação prosseguiria normal, se não fosse a intervenção de outro piloto. Esse sugeriu ao colega:
– Conta pra eles como nós chamamos o avião a álcool!
– Uê, a gente chama ele de Lulinha, porque o danado bebe pra daná!
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