Boa Midia

Meira Mattos e os coturnos mato-grossenses no Palácio do Planalto

Em 1964, Cuiabá com 58 mil habitantes era uma pequena cidade isolada no centro do continente. Uma estrada carroçável fazia sua ligação  com Brasília via Rondonópolis, Jataí (GO) e Goiânia. Comunicação somente por rádio em ondas tropicais ou pelos escassos jornais do Rio e São Paulo, trazidos por passageiros da Varig, Vasp, Transbrasil ou Cruzeiro do Sul. Nos grandes centros o Brasil fervilhava com o avanço dos militares sobre o Planalto Central, com apoio dos governadores Ademar de Barros (São Paulo), Magalhães Pinto (Minas) e Carlos Lacerda (Guanabara). Os militares sufocavam o governo de esquerda do presidente Jango Goulart, mas faltava o bote certeiro para consolidação da tomada do poder e, esse aconteceu quando dezenas de mato-grossenses invadiram o Palácio do Planalto seguindo seu comandante, o coronel do Exercito Meira Mattos. A tropa que ocupou o Planalto era do 16º Batalhão de Caçadores (16º BC), de Cuiabá, que mais tarde seria rebatizado 44º Batalhão de Infantaria Motorizado.

Herói na tomada de Monte Castelo, pela Força Expedicionária Brasileira (FEB), Meira Mattos usou a experiência que conquistou nos campos de batalha na Itália, para sair discretamente de Cuiabá, percorrer quase 1.200 quilômetros sem chamar atenção por onde passava, entrar em Brasília e dar o bote certeiro tomando o ambiente de trabalho de Jango, que pouco antes fugiu em busca de asilo no Uruguai

A ocupação foi em abril de 1964. Transcorridos mais de 54 anos, ex-soldados de Meira Mattos, agora respeitáveis septuagenários contam com orgulho sua façanha em Brasília. Um deles é seo Armindo Tupinambá, servidor público estadual aposentado, que costuma fazer caminhadas a passos lentos no Parque Mãe Bonifácia, em Cuiabá, e que não abre mão de vestir uma camiseta estilo militar. Há muitos anos o conheço e sempre nos encontramos nas pistas do Mãe Bonifácia. Às vezes ele costuma ironizar o cenário político desmoralizado de agora, “acho que terei que voltar pra lá (Brasília)” .

Com uma brilhante carreira militar, Meira Mattos chegou a general de divisão.Comandou a Academia Militar de Agulhas Negas (Aman) e uma tropa brasileira numa missão de paz na República Dominicana, em 1965. Foi adido militar na Bolívia. Obteve o título de Doutor em Ciências Políticas  na Universidade Mackenzie. Foi considerado uma das maiores autoridades brasileiras na formulação de geopolítica. Escreveu livros, publicou artigos em jornais e revistas.

A esquerda brasileira não perdoa o general Meira Mattos e o crucifica por dois fatos que ela julga ser crimes imperdoáveis: a ocupação do Palácio do Planalto e a invasão do Congresso Nacional, em 1966, quando o mesmo foi fechado por ordem do presidente Castello Branco. Meira Mattos e Castelo Branco foram irmãos combatentes no teatro de guerra na Itália. O presidente depositava total confiança nele – tanto que lhe entregou a missão de invadir e fechar o Congresso Nacional.

Mato Grosso entrou no contexto da revolução (ou golpe como quer a esquerda) de 1964 com a tropa do 16º BC ocupando o Palácio do Planalto. Trata-se de um episódio pouco divulgado e que sequer consta da biografia do general Meira Mattos, mas que além do objetivo em si, contribuiu para moldar a consciência cidadã de ex-soldados.

ELE – O general de divisão Carlos de Meira Mattos nasceu em 23 de julho de 1913, em São Carlos (SP). Morreu em 26 de janeiro de 2007 em São Paulo capital.

Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes

FOTO: Arquivo

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