MT – Uma prisão no currículo de Leitão
Dentre os pré-candidatos ao Senado na eleição suplementar em novembro, Nilson Leitão (PSDB), do Nortão, é o único que foi preso. Quem o prendeu foi a Polícia Federal, sob acusação de recebimento de propina quando prefeito de Sinop. Ele jura inocência.
Nilson Leitão é um dos nomes apontados para a disputa da cadeira vaga no Senado com a cassação da senadora Selma Arruda (Pode), por crimes de caixa 2 e abuso de poder econômico, e ocupada bionicamente por Carlos Fávaro (PSD). A trajetória política de Leitão começou há 24 anos, em Sinop, onde reside, e teve altos e baixos: foi um dos mais influentes tucanos mato-grossenses na cúpula nacional do partido que sonhava em dominar Mato Grosso por longo tempo; venceu e perdeu eleições; foi acusado de sanguessuga no escândalo da Máfia das Ambulâncias; a Polícia Federal o prendeu por suspeita de recebimento de propina numa obra de saneamento; liderou o PSDB na Câmara dos Deputados e o presidiu regionalmente; e esteve à frente da poderosa Frente Parlamentar da Agropecuária. Disputou mandato de senador no ano passado e teve fraca votação.
Menino pobre que trocou Cassilândia, em Mato Grosso do Sul, pela sedutora Sinop, Nilson Aparecido Leitão, técnico contábil, entrou cedo para a política. Aos 27 anos, em 1996, estimulado pelo então deputado estadual Ricarte de Freitas, conquistou mandato de vereador pelo PSDB. Leitão tinha trânsito nos movimentos jovens da igreja católica e junto aos atletas do futebol amador.
Em 1998 Leitão disputou uma cadeira à Assembleia Legislativa e amargou suplência, mas em 1º de junho de 1999 virou deputado estadual por força de um rodízio parlamentar regiamente pago pelo contribuinte.
Para ocupar por um curto tempo uma cadeira na Assembleia, Leitão contou com o afastamento do tucano Carlos Brito. Sua posse foi conduzida pelo presidente (e mandachuva) da Assembleia, José Riva (PSDB). A comissão que o introduziu ao plenário, para o juramento de posse foi formada por Jair Mariano (PPS) e Silval Barbosa (PMDB). O ato foi prestigiado pela cúpula regional do PSDB, com a presença do vice-governador Rogério Salles e do secretário Hermes de Abreu (Justiça). Os vereadores por Sinop, José Pedro Serafini, Pascoal Hidalgo e Jorge Müller compareceram ao ato juntamente com os prefeitos Geovane Marchetto (Marcelândia), Antônio Debastiani (Feliz Natal) e Sérgio Muniz Bernardes (Matupá).
Empossado deputado, Leitão espalhou outdoors por sua cidade com o dizer “Sinop agora tem deputado” e uma foto gigante dele em plenário. Essa propaganda soou mal, pois antes dele o município foi representado na Assembleia por Jorge Yanai, Jorge Abreu e Ricarte de Freitas.
Leitão na Assembleia era parte do plano liderado pelo governador tucano Dante de Oliveira, de controlar a política mato-grossense por longo período. Jovem, com possibilidade de ser prefeito de Sinop, cidade então integrante do chamado Brasil que dá certo, assim, Leitão ganhou espaço no grupo de Dante, que era suprapartidário e tinha em sua cúpula Thelma de Oliveira, Antero Paes de Barros, José Rosa, José Riva, Rogério Salles, Carlos Avallone, Humberto Bosaipo, Wilson Santos, Roberto França, Eliene Lima, José Carlos Novelli, Carlos Brito, Chico Daltro, Valter Albano, Alencar Soares, Renê Barbour, Pedro Satélite, Permínio Pinto, Antônio Joaquim, Hermes de Abreu, Hilário Mozer e outros.
A prefeitura é nossa!
Dante de Oliveira comemorou a eleição de Leitão para prefeito de Sinop em 2000. O grupo palaciano vibrava: A prefeitura é nossa!
Articulado, Leitão tratou de disputar a prefeitura com uma chapa que se completava com Sinéia Abreu. viúva do deputado estadual Jorge Abreu, que morreu no exercício do mandato e foi vereador por Sinop.
Leitão de novo
Dois anos antes de sua reeleição, Leitão foi paparicado pelo tucanato nacional. O senador paulista José Serra era ministro da Saúde de Fernando Henrique Cardoso e escolheu Sinop para oficializar sua intenção de disputar a Presidência em 2002. Em 31 de janeiro de 2002, Serra desembarcou naquela cidade acompanhado pelo líder do PSDB na Câmara, Jutahy Magalhães (BA) e o deputado federal tucano anfitrião Ricarte de Freitas. Misturando agenda de ministro com a de político Serra assinou um convênio de R$ 5,5 milhões com a prefeitura e o governo para a construção do Hospital Municipal e entregou para municípios do Nortão – onde Sinop é polo regional – quatro ambulâncias, dois ônibus e quatro veículos para o combate a dengue. Sinop tinha 79.513 habitantes e carregava o incômodo título de “Capital Nacional da Dengue“. O secretário municipal de Saúde, Helder Umburanas hostilizava jornalistas que cobriam a visita de Serra, demonstrando descontentamento com o rótulo pejorativo da cidade. Leitão, mais habilidoso, jogava a culpa na topografia plana de sua cidade, “a água não escoa, vai se acumulando, empoçando e dá nisso (a dengue)”, me disse em entrevista.
Serra assumiu a candidatura e jogou fogueira no projeto do senador Antero Paes de Barros (PSDB) de concorrer ao governo. Mesmo entusiasmado com a recepção em Sinop e fazendo pose para as imagens, o tucano Serra não assumiu compromisso de concluir a pavimentação da BR-163 entre Nova Santa Helena e Santarém.
Antero era senador e saiu ao governo dobrando com Janete Riva. Essa chapa era parte do projeto de Dante, de dominar Mato Grosso por muito tempo. Naquele pleito Dante concorreu ao Senado, mas as duas vagas abertas foram conquistadas por Jonas Pinheiro (DEM) e Serys Shessarenko (PT). Antero caiu no primeiro turno diante de Blairo Maggi (PPS). Dante foi moído nas urnas, mas sua coligação elegeu maioria na Assembleia Legislativa, porém seus deputados, a começar por José Riva, lhe deram uma banana. Em plenário, ao lado do espólio político de Dante restou somente o tucano Carlão Nascimento.
Com o esfacelamento do grupo de Dante a reeleição de Leitão foi mais difícil, porque no outro palanque estava o poderio da Botina – o grupo criado pelo recém-eleito governador Blairo Maggi, que em Sinop tinha em Baiano Filho, seu representante maior. Mesmo assim o tucano se manteve no cargo por mais quatro anos e seu vice foi Aparecido Granja (DEM).
Valei-me Tenente Willian!
CÂMARA – Embalado com sua carreira política Leitão concorreu a deputado federal em 2010. O resultado não o abalou, muito embora seu nome não constasse entre os oito eleitos. Naquele ano a Justiça Eleitoral batia cabeça com a Lei Ficha Limpa, que não foi validada para o pleito de outubro. Mesmo sem vigência, na confusão, foram desconsiderados os 2.098 votos recebidos pelo candidato a deputado federal Willian Dias, o Tenente Willian (PTB), que disputou pela coligação Jonas Pinheiro (PSDB, DEM e PTB), o que resultou na posse de Ságuas Moraes (PT). Leitão brigou na Justiça por seus direitos e em 13 de julho de 2013 ficou com a cadeira até então ocupada por Ságuas. Leitão recebeu 70.958 votos e Ságuas 88.654, mas o quociente eleitoral com a soma da votação do Tenente Willian derrubou o petista.
Reeleito em 2014 com 127.749 votos, Leitão foi o mais votado para o cargo naquele pleito em Mato Grosso.
Leitão foi vice-líder da Oposição na Câmara. Em 14 de fevereiro de 2017 assumiu a presidência da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA) sucedendo o deputado Marcos Pontes (PSD/MG) e em 20 de fevereiro de 2018 transmitiu o cargo para a deputada Tereza Cristina (DEM/MS), que hoje é ministra da Agricultura, Pecuária e Abastecimento do governo Jair Bolsonaro. Em 2018 foi líder do PSDB na Câmara e o presidiu regionalmente.
Em plenário Leitão assumiu com tanta intensidade a bandeira ruralista, que nem mesmo um pé de soja transgênico parecia tanto com o agronegócio quanto ele. Firmou posicionamento contra a Funai e a demarcação de terras indígenas e abriu confronto com a agricultura familiar e o MST.
A bandeira do agronegócio não rendeu votos para Leitão em 2018 quando disputou o Senado numa chapa partidária ficando em quinto lugar com 330.430 votos. Essa chapa se completava com os suplentes Luiz Carlos Nigro, de Cuiabá, e Rejane Garcia, vice-prefeita de Água Boa.
Leitão lutou muito, mas não conseguiu convencer o eleitorado, apesar da estruturada campanha que levou adiante com a participação de uma grande equipe. A luta não foi de bolsos vazios. Leitão declarou ao Tribunal Regional Eleitoral que gastou R$ 2,9 milhões em sua tentativa de ser senador – foi o campeão em gastança entre os 11 candidatos ao cargo.
Sem avião não é possível cobrir a quase continentalidade mato-grossense no curto período eleitoral. Leitão cruzou os ares de ponta a ponta indo a uma mesma cidade por várias vezes. Em 21 de setembro, numa dessas andanças o avião que o levava de Campinápolis para Água Boa fez pouso de barriga no aeroporto de destino, mas a perícia do piloto evitou uma tragédia e ninguém se feriu. Após o susto o candidato voltou ao ritmo acelerado da campanha.
EM FAMÍLIA – Na eleição municipal de 2012 em Sinop, Leitão lançou sua mulher, a advogada Renata Leitão (PSDB) candidata a vice-prefeita na chapa do também tucano e ex-deputado estadual Dilceu Dal’Bosco. O vencedor foi Juarez Costa (MDB), que se reelegeu ao cargo numa dobradinha com a atual prefeita Rosana Martinelli (PL). Juarez recebeu 35.017 votos, e Dilceu, 22.275. Juarez agora é deputado federal pelo MDB.
Preso na Operação Navalha
Prefeito em segundo mandato consecutivo, pesava contra Leitão a suspeita que teria recebido R$ 200 mil em propina da empresa Gautama – pivô da Operação Navalha – que executaria uma obra de Saneamento em Sinop para construir rede de esgoto e tratamento do mesmo em 40% da cidade. A sede da Gautama fica em Salvador (BA). Agentes da Polícia Federal filmaram Leitão em Brasília com um envelope amarelo, onde estariam R$ 100 mil que seriam antecipação de propina. O prefeito foi preso em Sinop no dia 17 de maio de 2007 e trazido para Cuiabá, de onde foi levado a Brasília no Voo 3898 da TAM (agora LATAM) para a Penitenciária da Papuda, onde permaneceu atrás das grades por quatro dias, até sua prisão ser relaxada pela ministra do Superior Tribunal de Justiça, Eliana Calmon.
A abertura do envelope não foi acompanhada pela PF. Em nome do princípio da presunção da inocência o Ministério Público Federal pediu sua soltura. O delegado José Maria Fonseca, que conduziu o caso, não conversou com a imprensa. Leitão jura inocência.
PRISÕES – Em 17 de maio de 2007 a Polícia Federal cumpriu 40 mandados de prisão e 84 de busca e apreensão em Mato Grosso, Alagoas, Bahia, Distrito Federal, Goiás, Maranhão, São Paulo, Sergipe, Pernambuco e Piauí. Os mandados foram expedidos pela ministra Eliana Calmon e resultaram na Operação Navalha. Investigações apontaram que teriam sido desviados ao menos R$ 31 milhões na construção de obras municipais com recursos dos ministérios de Desenvolvimento, Planejamento e Gestão; Meio Ambiente; Minas e Energia; Integração Nacional; e Cidades, além do Departamento Nacional e Infraestrutura de Transportes (Dnit). Uma das prisões foi a de Leitão.
Carne e unha com Pedro Taques
No começo do governo de Pedro Taques (2015/18) servidores foram às ruas protestando contra a suspensão do pagamento da Revisão Geral Anual (RGA) e contra o não cumprimento da legislação que assegura o poder de compra dos profissionais da Educação.
Greve, cerco ao Palácio Paiaguás, acampamento no pátio da Assembleia Legislativa, caminhadas em Cuiabá e outros atos marcaram aquele turbulento período. Taques, porém se sentia fortalecido. Ao seu lado, com fidelidade canina estava a Assembleia Legislativa, e seu partido, o PSDB, representado por Leitão, que em nenhum momento hesitou – optou sempre pelo governador em detrimento do servidor.
Segundo analistas, o posicionamento de Leitão na questão salarial e da RGA, contribuiu para seu pifio desempenho nas urnas quando tentou o Senado.
Eduardo Gomes de Andrade – editor de blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 – PSDB Divulgação
2 – Agência Câmara
3 – Airton Iappe – Radio Interativa FM e Jornal Interativo – Água Boa
4 – Maurício Barbant
5- Flickr de campanha Pedro Taques ao Governo em 2018
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