Na sexta-feira, 31, leio na mídia que poderes montam estratégia para transformar Mato Grosso no maior polo têxtil do Brasil. Esta é uma boa pauta, mas para ser tratada sob a lupa da transparência e independência. Alguém já ouviu falar na Santana Textiles, a moderna indústria que funcionou em Rondonópolis e misteriosamente baixou as portas sem que nenhuma autoridade questionasse os prejuízos causados inclusive no campo social, uma vez que mil trabalhadores ficaram a ver navios?
Pois bem, leio que o chefe da Casa Civil Fábio Garcia se reuniu com autoridades em busca do tal polo têxtil, e que um dos participantes dessa discussão foi o desembargador do TJ Orlando Perri, e que Sérgio Ricardo, o conselheiro que preside o Tribunal de Contas do Estado (TCE) defendeu que a meta inicial era começar o polo com a utilização de mão de obra do sistema prisional.
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A busca por um polo têxtil passa por Fábio Garcia, por sua função no governo e sua condição de deputado federal, ainda que licenciado. Porém, esse assunto não diz respeito ao desembargador nem ao conselheiro. Orlando Perri, como é de conhecimento público, dirige um programa de ressocialização que inclui o aproveitamento de mão de obra penitenciária, e o faz muito bem; no entanto, um plano superlativo de industrialização para ser levado adiante tem que ser abrangente, e na sua escala de serviço, em alguns setores, poderá contar com a mão de obra ressocializadora, mas nada mais do que isso. Quanto a Sérgio Ricardo, não é papel do TCE esse tipo de articulação; a função daquele órgão técnico afeto à Assembleia Legislativa é o de apreciar os balancetes de prestação de contas dos municípios e na esfera estadual – nada mais do que isso.
De qualquer forma, é preciso louvar a participação de Orlando Perri e Sérgio Ricardo, nesta árida terra quando o tema é sua defesa, mas sem conceder a ambos a missão de industrialização e geração de empregos.
A busca por um polo têxtil tem que ser conduzida numa ação transversal do governo estadual, Assembleia Legislativa, bancada federal, empresariado, cotonicultores e entidades do setor produtivo como a Federação das Indústrias (Fiemt) e a Federação da Agricultura e Pecuária (Famato). Fora disso – e que ninguém se sinta ofendido – é jogar para a plateia.
Na sequência narro um fato gravíssimo no setor têxtil mato-grossense, que desafia as autoridades, todas em silêncio.
Mato Grosso ganhou a maior e mais moderna fábrica de tecido para confecção do jeans no Brasil. Em dezembro de 2006 a Santana Textiles hasteou sua bandeira em Rondonópolis, numa região cercada pelo branco do algodão por todos os lados. A meta inicial foi cumprida: a indústria produzia mensalmente 1,5 milhão de metros lineares de tecido denim, gerava 1.100 empregos com 900 operários residentes naquela cidade e anualmente comprava 12 mil toneladas de algodão. Em 2015, depois de dois tropeções que suspenderam temporariamente o funcionamento de seu parque industrial, a empresa baixou definitivamente suas portas.
Tão silenciosos quanto as máquinas inativas da Santana Textiles está a classe política, a começar pelo governo, e o mesmo acontece em relação ao sindicalismo que representa os ex-operários agora no olho da rua. Que mistério se esconde por trás do fechamento da Santana Textiles em Rondonópolis? O grupo empresarial dono da indústria não abre a boca, o governo estadual está calado, a classe política rondonopolitana não sai da moita e o mesmo faz o sindicalismo.
A Santana Textiles oficializou seu fechamento em maio de 2015. Em fevereiro daquele ano e por alguns meses em 2014 suspendeu a produção temporariamente. Enquanto Rondonópolis fica fora da operação industrial, as cinco fábricas do grupo estão a todo o vapor produzindo mais de 7 milhões de metros lineares de denim mensalmente, em suas quatro plantas no Nordeste e uma na Argentina.
Um dos argumentos da Santana Textiles para se instalar em Rondonópolis era convincente: cerca de 80% de sua matéria-prima, no caso o algodão, era comprado em Mato Grosso. Somando-se a isso, seu maquinário moderno, que era considerado o mais avançado do Brasil, a oferta de mão de obra, o suprimento regular de energia elétrica, a ferrovia da Rumo Logística para o porto de Santos e rodovias pavimentadas para os principais mercados em São Paulo, Sul e nos países do Cone Sul, a fábrica tinha tudo para dar certo naquela cidade. Mais: além da soma de fatores positivos, o governo estadual a enquadrou para receber os benefícios concedidos pelo Programa de Desenvolvimento Industrial e Comercial (Prodeic), que pode ser melhor entendido pela palavrinha que enternece os corações do empresariado: desoneração. Isso, renúncia fiscal para atrair investidores.
Não houve quebra na produção algodoeira no polo de Rondonópolis, que abrange aquele e os municípios de Campo Verde, Jaciara, Itiquira, Guiratinga, Tesouro, Pedra Preta, Alto Garças, Alto Araguaia, Alto Taquari, Dom Aquino, Juscimeira, Poxoréu, São Pedro da Cipa, Primavera do Leste, Santo Antônio do Leste, Novo São Joaquim, General Carneiro, Araguainha, Ponte Branca, Ribeirãozinho, Santo Antônio de Leverger, Paranatinga, Gaúcha do Norte, Planalto da Serra e Nova Brasilândia. Nenhum Estado, excetuando-se Mato Grosso, produz tanto algodão quanto aquela região. A energia elétrica continua firme na ponta.
Nem mesmo essa realidade despertou o então governador Pedro Taques, que estava no poder quando a Santana Textiles fechou. O sucessor de Taques, Mauro Mendes, também não abre o bico. O prefeito Zé Carlos do Pátio toca a administração como se o maior empregador privado do município continuasse em atividade. A Assembleia Legislativa, como tradicionalmente procede, finge que o fato não existe. Na bancada federal, em Brasília, não se ouve voz cobrando a retomada da produção, quer seja pelo grupo empresarial dono da fábrica ou por meio de alguma composição com empresários ou cooperativas.
DENIM– O jeans é feito com o tecido denim oriundo de tecelagem tendo o algodão enquanto matéria-prima. Há quem confunda o jeans com o denim e o índigo que também é chamado de índigo blue (blue em inglês é azul, a cor predominante do jeans). Jeans é a roupa. Denim o seutecido. Índigoé sua cor.
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