Boa Midia

O adeus do Brigadeiro

 

Meus amigos, meus inimigos: a verdade é que ainda falta muita informação para as pessoas. Vejam que o jornalista Eduardo Gomes, que está deixando o jornalismo, depois de mais de 40 anos de elogiada atividade, sempre se queixa que não é lido. Há muita oferta, muitas possibilidades para que o profissional da comunicação faça chegar sua mensagem até aos cidadãos, mas a grande verdade é que quase tudo que se faz não é informação, mas manipulação. A culpa, então, não é do velho Brigadeiro, em sua angústia, mas dos vícios de um sistema que não é fácil de entender e dissecar.

O jornalista Paulo Francis dizia que apenas um por cento das pessoas de todo mundo conseguiam, realmente, saber o que está acontecendo em nosso mundo. Aos outros 99% restaria o destino bovino de ser arrastado pela vida, como massa de manobra nas mãos dos vivaldinos. Você olha para as estatísticas de acesso nos jornais e sites e vê que, muitas das vezes, diante do assombro da vida, as pessoas preferem buscar uma distração a uma informação.

Vejam a questão do Fundeb: diante da espantosa informação de que pode ter havido criminosa manipulação das verbas que deveriam ser usadas para a Educação, não deveríamos estar todos empenhados em esclarecer da melhor forma possível o que houve nos bastidores?

Eu abro as páginas dos jornais, entro nos sites, viajo pelas postagens no Facebook, esperando constatar a existência de um clamor popular em busca de dados confiáveis sobre este crime administrativo – e o que se vê é a preocupação governamental de diluir o impacto da revelação superando a busca pela informação que deveria animar todos os nossos noticiários, toda a nossa estrutura de comunicação.

Vejam que tudo começou com declarações do chefe da Casa Civil, deputado Max Russi, e do presidente da Assembleia Legislativa, Eduardo Botelho, que fizeram a revelação, no final do ano, de que grande parte do dinheiro recebido do FEX, fora usado para cobrir o que fora retirado do bolo que deveria ter sido repassado aos municípios para cobrir os gastos com a Educação.

E não bastasse essa constatação, ainda nos vem o Brigadeiro Eduardo Gomes e joga a toalha, dizendo que está fora do jogo, que em breve não vai mais se dedicar ao jornalismo, que não teremos mais o seu faro a serviço do furo, da revelação, da procura pelas verdades que, mantidas encobertas, precisam ser trazidas à luz.

Evidentemente que a Comunicação, em Mato Grosso, já sofreu muito com a morte ou a aposentadoria de outros profissionais valorosos. Mas, não. Não podemos aceitar que a busca incessante pela informação seja um valor tratado com menoscabo. Se o Brigadeiro joga a toalha, outros cães perdigueiros precisam entrar em ação. Os interesses maiores de nosso povo devem ser preservados acima de tudo.

 

Enock Cavalcanti, jornalista e blogueiro, é editor de Cultura do Diário de Cuiabá.

Comentários estão fechados.

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Vamos supor que você está bem com isso, mas você pode optar por sair, se desejar. Aceitar Leia Mais

Política de privacidade e cookies