O tempo dirá
Pivetta cai pra cima. Essa definição nascida da sabedoria popular mostra bem quem é o vice-governador Otaviano Olavo Pivetta, que até recentemente era pré-candidato pelo PDT ao Senado na eleição suplementar de 15 de novembro para preenchimento da vaga aberta com a cassação da senadora Selma Arruda e ora ocupada bionicamente por Carlos Fávaro (PSD).
O tema central deste artigo não é Pivetta, mas ele faz parte do mesmo. Sua citação não é meramente referencial, pois o objetivo é focalizar o novo cenário sem a participação direta do vice-governador.
Com quatro nomes do Nortão disputando o Senado, e todos mais ou menos no mesmo patamar eleitoral, quem permanece no palanque faz roleta-russa com o revólver carregado. Candidato que disputa votos em pleito majoritário de amplitude estadual precisa receber afagos nas urnas nos 141 municípios, mas é imprescindível que tenha uma base sólida. Pivetta que enxerga atrás dos montes notou isso.
Antes da desistência do vice-governador o Nortão tinha quatro nomes considerados do primeiro time. Pivetta e Carlos Fávaro (PSD), ambos de Lucas do Rio Verde; Nilson Leitão, tucano de Sinop; e Valdir Barranco, petista de Nova Bandeirantes. Ficou um trio. Leitão com um escorregão que resultou em sua prisão pela Polícia Federal quando da Operação Navalha; Fávaro, de triste passagem pela Secretaria de Meio Ambiente (Sema) e o desconforto perante o espelho por ser biônico; e Barranco, que carrega o desgaste do PT nacional, com desdobramento aqui, uma vez que a Justiça Federal acaba de tornar réu o ex-deputado estadual Alexandre Cesar, pelo triste episódio exibido pela Globo, onde ele e outras cabeças coroadas recebiam pacoteiras de dinheiro de Sílvio Corrêa, então chefe de Gabinete do à época governador Silval Barbosa.
Mesmo com Fávaro, Leitão e Barranco enrodilhados em contratempos Pivetta tremeu e saiu de cena, pois a divisão de votos do Nortão entre os candidatos locais e os de outras regiões não motiva a experiência do vice-governador pra pegar onça a unha.
No Chapadão do Parecis, o Rei do Porco Reinaldo Morais, filiado ao PSC, quer a cadeira. Figura estranha ao mato-grossense, Morais é um grande empresário paranaense que chegou por aqui na esteira da oportunidade. Tanto ele quanto Leitão e Fávaro tentarão a sorte junto ao baronato do agronegócio para conquistar o Senado. Creio que primeiro Pivetta pensou nos adversários intestinais no Nortão, e depois, no Rei do Porco, e que a soma desses nomes o desmotivou.
Pela química eleitoral que sempre reina em Mato Grosso, Fávaro, Leitão e Sua Majestade o Rei do Porco se canibalizarão. Se Pivetta permanecesse também viraria picadinho nas urnas. Barranco é caso à parte. Navega na faixa eleitoral do PT, que por essas bandas além de inexpressiva desconsiderou seu melhor quadro: Ságuas Moraes.
Até agora somente com citações masculinas, o artigo volta o olhar pra tenente-coronel da PM Rúbia Fernanda filiada ao Patriota. Pena que na política tão machista de Mato Grosso Rúbia Fernanda não assuma uma candidatura feminina preferindo se associar ao presidente Jair Bolsonaro, que na eleição passada elegeu Selma Arruda – cassada por caixa 2 e abuso de poder econômico.
Converso com oficiais e praças da PM. Não os vejo motivados com Rúbia Fernanda. Avalio comparativa e figuradamente que o cenário eleitoral no efetivo de sua corporação lhe seja mais adverso do que a divisão dos votos no Nortão entre Barranco, Fávaro e Leitão.
Dos nomes mais cotados remanesce José Medeiros (PODE), ex-suplente do à época senador Pedro Taques, e há algum tempo, seu algoz. Medeiros integra o grupo que também tem os deputados Nelson Barbudo, Sílvio Fávaro, Delegado Claudinei e outros que se elegeram à sombra de Bolsonaro – o presidente que ainda é xodó de parte do agronegócio.
Com Medeiros e Rúbia Fernanda umbilicalmente ligados a Bolsonaro, avalio que Pivetta realmente cai pra cima. A votação do presidente será diluída entre Rúbia Fernanda, Medeiros, Leitão, Fávaro e o Rei do Porco. Ainda que fosse possível multiplicar votos na urna não seria fácil eleger alguém desse grupo, cujo DNA eleitoral atende pelo nome de Jair Messias Bolsonaro ou simplesmente Capitão. Eta Pivetta!
Esse cenário me transporta ao Brasil que buscava a Independência e Portugal. Dom João VI, pouco antes de embarcar para a terrinha e observando o clamor brasileiro aconselhou seu herdeiro Dom Pedro I: “Pedro, se o Brasil vier a se separar de Portugal, põe a coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro lance mão dela“.
Não sei se alguém disse a Pedro algo parecido com o conselho de Dom João VI, mas vejo no noticiário que Pedro – esse sem coroa – será lançado ao Senado pelo Solidariedade. E ele entra com chance real de vitória.
Ao contrário do grupo do agronegócio, que se canibaliza, Pedro mesmo sem ser produtor ou pecuarista tem votos nos elos dessa cadeia e conta com três pilares interessantes: foi governador e quem passa pelo Paiaguás sempre tem uma fatia do poder consigo; conta com o deputado federal e seu correligionário Dr. Leonardo, na fronteira; e em Rondonópolis é carne e unha com o Zé que o povo quer. Esse Zé é o prefeito Zé do Pátio, político acostumado a derrotar grandes caciques e que na eleição suplementar entrará de corpo e alma pra minar José Medeiros, que começa a se despontar na Terra de Rondon.
Pedro não pode ser considerado o novo na política, mas, não há como negar que seja beneficiário direto do cenário criado por barões da soja e amigos do rei. O tempo dirá.
Eduardo Gomes é jornalista em Cuiabá
eduardogomes.ega@gmail.com
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