Obra em Rondolândia vira monstro
Mato Grosso precisa com urgência separar o joio do trigo no tocante ao campo da esfera pública. Manchetes desse sábado, 25, dão conta de que o governo estadual teria desembolsado R$ 21 milhões pela pavimentação da rodovia MT-313 que liga Rondolândia a Rondônia e sem que sequer um metro de asfalto fosse construído.
O noticiário informa com naturalidade que auditores da Secretaria de Controle Externo de Obras e Serviço de Engenharia (Secx Obras) do Tribunal de Contas do Estado (TCE) preparam relatório de autoria de uma nova inspeção técnica na obra (de pavimentação) da MT-313, iniciada no final do ano de 2013, amparada por um contrato firmado pela Secretaria de Infraestrutura e Logística (Sinfra) e a Construtora Camargo Campos Engenharia e Comércio.
O texto, recheado de detalhes, nos mostra duas coisas: primeiro, que o governo anterior chefiado por Silval Barbosa teria desembolsado R$ 21 milhões (de um montante contratado de R$ 30 milhões) por uma obra fantasma, o que até prova em contrário configuraria improbidade administrativa. Segundo, que transcorridos quatro anos o TCE não adotou as medidas cabíveis ao caso.
Vivemos um fértil período de caça às bruxas do governo Silval e o site não questiona tal situação, por julgá-la imprescindível para se passar Mato Grosso a limpo. Porém, o olhar lançado ao ontem não pode nos impedir de enxergar os erros de agora. Nesse item derradeiro cabe o questionamento: onde estava o TCE enquanto a situação da MT-313 era mantida debaixo do tapete ou quando muito tramitava no labirinto da burocracia de conveniência, de incompetência de ambas as coisas ao mesmo tempo?
Mato Grosso exige resposta para o caso da rodovia que liga Rondolândia a Rondônia. De igual modo também quer saber a razão para tamanha demora do TCE, o órgão técnico de contas, equipado com o software GEO-OBRAS, que gerencia as informações das obras executadas no todo, em parte ou não executadas em todos os órgãos estaduais e municipais.
Um órgão técnico que tem o custo do TCE ao contribuinte perde a razão de ser quando é engolido por estranha lentidão. Somem-se a isso a delação premiada feita pelo ex-governador Silval Barbosa ao Ministério Público Federal com homologação pelo ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, na qual acusou cinco conselheiros de terem recebido R$ 53 milhões em propinas para aprovarem suas contas, destacando os balancetes sobre os gastos com a Copa do Mundo e o rodoviário Programa Mato Grosso Integrado, Sustentável e Competitivo (MT Integrado) ao qual estava inserida a obra em objeto.
Antônio Joaquim, José Carlos Novelli, Valter Albano, Waldir Teis e Sérgio Ricardo, os cinco conselheiros afastados, estão proibidos de frequentarem o TCE. Vale observar que Sérgio Ricardo já se encontrava afastado sob a acusação de ter comprado sua vaga naquele órgão técnico de contas ao conselheiro Alencar Soares.
A imprensa tem destacado papel nesse momento em que Mato Grosso se depara com mais e mais escândalos na esfera administrativa e parlamentar. Mas, nem por isso a população deve conferir crédito ilimitado ao noticiário, porque ele voluntária ou involuntariamente pode omitir informações importantes, como se vê no caso da rodovia em Rondolândia.
Que o leitor (internauta, ouvinte e telespectador) fique atento. O caso de agora demonstra que erro do governo quando associado à omissão, morosidade ou conivência do TCE e da Assembleia Legislativa é capaz de criar monstro, como esse, que precisa ser exorcizado.
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