Pérolas por aí
De uns tempos para cá, por um motivo ou outro, tenho repetido com prazer a máxima expressa por Pedro Luís na música ‘Miséria no Japão’: “Também há miséria no Japão / também há tesouros na favela”.
Pois é, minha cara, meu caro: también las hay!
E dia desses ainda a repeti no texto ‘Flauta Mágica e o Enem’, aqui mesmo publicado, no qual se conta um pouco da história vitoriosa (permeada de lutas e dificuldades de toda sorte) do Instituto Flauta Mágica em seus 20 anos de estrada no bairro Jardim Vitória, um dos mais carentes em infraestrutura e opções culturais e de lazer da capital Cuiabá.
Dias depois, ao pegar das mãos do professor Sérgio Cintra um volume razoavelmente grande de redações para corrigir e dar nota, ao entregá-las, veio o óbvio questionamento: “Mas e aí, há entre essas redações da escola pública pelo menos uma excelente, merecedora de uma nota 1000?”. E eu: “Claro, meu caro: também há miséria no Japão, também há tesouros na favela!”.
O que há de sentimentos nobres em cada canto da cidade, quanta virtude nessas meninas e meninos do campo, em qualquer parte! Tanto que nem te conto…
Ou melhor, te conto. Mas só um pouco, aqui.
Esta, por exemplo: de nome de batismo Pérola Linda, do alto dos seus 18 anos, morena e de riso largo, é como coloquei na dedicatória de um livro com que a presenteei dia desses: dentre tantos predicados, tantos adjetivos de que é merecedora, prefiro dizer simplesmente que esta menina é mesmo uma pérola!
Tem boa formação, é educada, gentil e também crítica: disse que ia votar não em um candidato apenas, mas em defesa da democracia! E justificando uma ruptura que está prestes a fazer, numa daquelas encruzilhadas da vida em que decidimos deixar algo ou alguém para trás, na poeira: “Cansei; apenas e tão somente cansei!…”.
E eu: “Cansou de dar pérolas aos porcos?”.
E ela, com sua graça e sorriso costumeiros: “Pois é, resolvi atender ao conselho de Jesus (Cristo)!”.
Pérolas aos porcos, nunca mais. Ou pelo menos por enquanto, pois, afinal, é tão jovem e por certo ainda tem, muito, o direito de errar pela vida.
MARINALDO CUSTÓDIO, escritor, é mestre em Literatura Brasileira pela UFF
mcmarinaldo@hotmail.com
Comentários estão fechados.