Duas fileiras de casas, algumas residenciais e outras de comércio; no meio a BR-364, que não passa de uma trilha. Assim é a travessia de Alto Araguaia, na divisa com a siamesa Santa Rita do Araguaia, em Goiás. A cidade não se resume àquele corredor. Algumas vias transversais e paralelas compõem seu arruamento. As duas cidades, bem parecidas, e entre elas o rio Araguaia, que naquele trecho é pouco mais que um ribeirão atrevido por sua correnteza; a diferença fica por conta do fuso horário, registrando uma hora a menos do lado mato-grossense em relação ao goiano, pois este adota a hora de Brasília. O calendário marca 10 de maio de 1970. Transcorridos 44 anos do meu primeiro contato com Mato Grosso, lanço este livro, cujo título pega carona no espaço de tempo que vivo aqui.
A CHEGADA – Cuiabá dista 410 km, mas o destino é Paraíso do Leste, no município de Poxoréu, perto de Rondonópolis, cidade que é o ponto equidistante entre a divisa com Goiás e a capital mato-grossense. A próxima parada seria em Alto Garças, mas o sol se põe e a prudência manda que se pouse em Alto Araguaia, não por risco de assaltos, porque a região é pacata, mas para evitar os imprevistos da noite.
Pela manhã, no dia 11, depois de um café corajoso – aquele que vem sozinho – chega o momento de pegar a estrada que a cada curva me bota mais e mais distante de Alpercata, nos cafundós do Leste de Minas Gerais banhado pelo rio Doce, que foi meu ponto de partida.
A 364 mistura trechos encascalhados com areões. Na direção oposta, em Goiás, o trajeto é semelhante. Seriemas desengonçadas cruzam a estrada em rápidas passadas ora com uma ora com outra asa tocando a areia. Araras azuis e papagaios voam em grupos enquanto pequenos pássaros fazem revoadas. Nos poucos veículos que trafegam em direção contrária se vê o polegar direito do motorista fixo no para-brisas, pra protegê-lo das pedras que costumam ser atiradas acidentalmente pelos pneus do carro que avança em sentido oposto.
Pelo caminho, pensões e restaurantes atendem os motoristas. O Restaurante da Nininha, no município de Alto Garças, ficou famoso e depois, com a mudança do trajeto da rodovia, ganhou novo endereço: em Boa Vista, vila distante 30 quilômetros de Rondonópolis rumo a Cuiabá…
… Depois de cinco horas de viagem num rasgo pelo cerrado, surge Rondonópolis, cidade pequena, empoeirada, mas com sinais de crescimento que podem ser vistos até pelo mais cético ou pessimista. O caminho para Poxoréu é a MT-130, acidentada e pouco movimentada…
… Após a acolhida por Nalon, bastou providenciar a mudança para Rondonópolis e iniciar a mais longa caminhada em minha vida, que agora completa 44 anos e somente Deus sabe até quando prosseguirá. A mudança somente aconteceria em 1973, mas no período fiquei a maior parte do tempo em Mato Grosso, com uma curta ausência para participar da disputa eleitoral em 1972, ano em que fui eleito vereador pela legenda da Aliança Renovadora Nacional (Arena) no município de Alpercata, pela generosidade de seu povo. Não exerci o mandato por razões que não se inserem no contexto do livro, mas tenho a honra de manter na moldura em meu escritório o Diploma de Vereador assinado por uma das figuras mais honradas da magistratura mineira em todos os tempos, o saudoso juiz da 54ª Zona Eleitoral de Governador Valadares, doutor Joaquim de Assis Martins Costa. Ao optar por permanecer na minha nova terra deixei vaga a cadeira na Câmara. Fui substituído pelo suplente Adelino Guilherme de Medeiros, o Delico, que não está mais entre nós.
A trajetória em que fui espectador dos fatos ao longo desse período é o tema deste livro, no qual conto que virei e revirei Mato Grosso pelo avesso atrás da notícia, em busca de fatos…
PS– Parte do capítulo de apresentação do Livro 44, publicado em 10 de maio de 2014, sem apoio das leis de incentivos culturais, para celebrar meus 44 anos em Mato Grosso.
A publicação do Livro 44completa 10 anos neste dia 10 de maio. Esta postagem é comemorativa.
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