Boa Midia

Que venham os livros

Meus amigos, meus inimigos: há uma grande frustração entre as pessoas que vivem a cultura, em Mato Grosso, entre os artistas, entre os literatos, quando um evento como a Literamato é suspenso, deixa de acontecer. Mesmo tocado por emendas parlamentares, seria uma festa para a literatura.

A festa prometia ser bonita, como foi bonita a Literamérica, lá durante a administração do governador Blairo Maggi. A administração do governador Zé Pedro Taques vai ficar nos devendo essa. A leitura e o livro ainda são coisas raras, em Mato Grosso. Ainda mais uma festa que seja centrada nesse instrumento cultural de libertação que é o livro.

Que livrarias existem em Cuiabá, além da persistente Janina e do insistente Bazar do Livro? Poucos leem, poucos compram livros – e o hábito de frequentar biblioteca ainda não apaixonou o coração e nas mentes na maioria dos mato-grossenses.

Na intimidade, costumo dizer que fui salvo pelos livros. Foi através dos livros que meu irmão mais velho, o Heraldo, tinha o hábito de levar todo dia para casa, foi que me formei. Sim, as informações vieram até mim, em minha adolescência, muito mais através das páginas de Carlos Drummond de Andrade, Dostoievski, Vitor Hugo, Hemingway, Stanislaw Ponte Preta, Rubem Braga, Nelson Rodrigues, Júlio Verne – do que através da escola, onde imperava o medo e a repressão ao pensar, naquele período de ditadura militar.

Quando cresci, e expandi minha área de circulação da Baixada Fluminente para o Rio de Janeiro, me lembro que era uma gostosa rotina encontrar feiras de livros, e barracas de literatura, praticamente todas as semanas, na Cinelândia, no Largo da Carioca, na Praça Quinze. E foi assim que cheguei a Karl Marx, Marcuse, Rosa Luxemburgo, Simone de Beauvoir, Oto Lara Rezende, Paulo Mendes Campos, João Cabral de Melo Neto.

Desde que me entendo por gente, não existe um dia em que não esteja com um livro diante dos olhos. A leitura é um amor que nos eterniza.

Por isso torço para que a feira do livro de MT, mesmo tendo sido adiada, inviabilizada por um rolo qualquer entre a Secretaria de Cultura e a de Educação, não seja inviabilizada. Precisamos do livro e da leitura para sermos melhores. Principalmente neste momento em que o obscurantismo volta seus olhos para a arte brasileira, e tenta confundir manifestação cultural com pornografia, pedofilia, o caceta a quatro.

Imagino que o Gervane de Paula deveria se expor mais, gritar mais, como forma de impedir que esses fascistóides que tentam carimbar suas pinturas como arte degenerada não consigam engrossar a sua voz.

Precisamos, sim, de arte e de livros. E por favor, empresários da Cultura, sem mutretas.

 

Enock Cavalcanti, jornalista e blogueiro, é editor de Cultura do Diário

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