Selma Rosane, o sonho que virou pesadelo
Selma Rosane Santos Arruda (foto), juíza que não se curvou ao poder político ao mandar para a cadeia boa parte da cúpula que governou Mato Grosso de 2010 a 2014, inclusive o governador daquele período, Silval Barbosa. Sua firmeza na prestação jurisdicional ganhou o respeito mato-grossense. Sua conduta na magistratura soava como música de esperança, como luz nas trevas da imoralidade recorrente na vida pública. Assim, Selma entrou no centro das atenções do mato-grossense em busca da renovação de sua classe política quase toda desgastada e desmoralizada por incontáveis atos de improbidade, formação de organização criminosa etc. Selma aposentou-se e mergulhou no mundo político buscando uma vaga no Senado, pelo PSL de Jair Bolsonaro.
Selma deu os primeiros passos políticos na coligação liderada pelo governador tucano Pedro Taques, que é acusado de chefiar o fétido esquema da Grampolândia Pantaneira – acusação essa feita em juízo pelo cabo da PM Gérson Corrêa, réu confesso enquanto principal operador daquele esquema de gravação telefônica criminosa. Com Pedro e outras figuras menores maculadas, Selma partiu em busca de votos e somente desceu do palanque tucano depois que se desentendeu com o deputado federal e candidato ao Senado Nilson Leitão (PSDB).
Em abril, portanto bem antes das convenções, sites de Cuiabá abriram manchetes para a contratação do marqueteiro Júnior Brasa, da Genius Produção Cinematográficas, por Selma, para conduzir sua campanha. À época, a generosidade dos textos não questionou a extemporaneidade do contrato da juíza aposentada com Brasa. O fato foi tratado com naturalidade e não faltou matéria destacando a inteligência de Selma por se organizar antecipadamente.
A contratação de Brasa agora está no centro do noticiário, mas tendendo para o lado policial apontando que Selma teria abusado do poder econômico e feito caixa 2 em pagamento de R$ 550 mil ao marqueteiro por meio de quatro cheques de sua conta-corrente com seu marido, Norberto Arruda; essa despesa de campanha aconteceu fora do período em que a legislação permite gastos eleitorais, desde que devidamente declarados. O conteúdo estampa cópias microfilmadas de cheques de Selma que foram utilizados para pagar o contratado. Aparentemente não há como negar. Pior: a esses cheques soma-se um desembolso de R$ 150 mil por parte do primeiro suplente na chapa de Selma, o produtor rural e ex-vereador por Sorriso, Beto Possamai (PSL).
Mais: Brasa aciona a chapa de Selma na Justiça alegando quebra de um contrato e pede pagamento de R$ 1,16 milhão. A ação é movida contra os três componentes da chapa: Selma, Beto Possamai e a candidata a segunda suplente Clérie Fabiana Mendes.
Polícia Federal e Ministério Público Eleitoral investigam o caso. Trata-se de um escândalo e esse escândalo torna-se ainda maior por conta de sua autora, a juíza aposentada Selma.
Fato de tamanha gravidade envolvendo uma figura que era considerada referência na proposta de moralização da classe política não pode ficar relegado a segundo plano nem mantido sob o tapete. Em respeito ao mato-grossense Selma tem que explicar a situação, sem rodeios, com clareza e, num gesto de grandeza deve estender a mão pedindo perdão em mea culpa – o que quase nunca se vê nos meios políticos.
Selma precisa se dirigir a Mato Grosso o quanto antes. Não se trata de caixa 2 feito somente por ela, mas também por seu suplente Beto Possamai. A chapa que acalentou sonhos de renovação perdeu a essência, e nivelada ao que há de pior na política. agoniza à espera da investigação policial que pode levá-la às barras da Justiça. Em respeito ao voto de quem deseja um Brasil melhor, Selma deveria avaliar a situação em que se encontra e, num gesto ainda maior do que a mea culpa, renunciar.
Eduardo Gomes é editor de blogdoeduardogomes
FOTO: Arquivo
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