Um desmatamento com mais de 81 mil hectares por meio de desfolhantes lançados pela aviação agrícola não pode passar despercebido pelas autoridades ambientais. Isso exatamente foi o que aconteceu em Barão de Melgaço, no Pantanal, onde o empresário Claudecy Oliveira Lemes antropizou suas 11 fazendas naquele município adotando um método semelhante ao que os Estados Unidos fizeram no Vietnã quando em guerra contra aquele país, e que até hoje contamina o solo e as águas.
Onde estava a Secretaria de Meio Ambiente de Mato Grosso (Sema) quando os pilotos lançavam 25 agrotóxicos diferentes sobre a vegetação, as águas pantaneiras e sua fauna? A titular da Sema, Mauren Lazzaretti, nunca foi questionada sobre isso pela Imprensa Amiga e permanece calada.
A Sema revelou apenas que no ano passado recebeu denúncia sobre o crime em Barão, mas não explicou quais procedimento teria adotado nem a razão para não dar notoriedade a esse imperdoável crime.
A Sema também não citou o que teria permitido tal desmatamento. É preciso saber se a denúncia chegou a ela no começo da ação de Claudecy Oliveira Lemes e ela não agiu ou se foi feita quando o dano já estava causado. Nos dois cenários a Sema fica em situação de desconforto – para ser cometido nas palavras.
Numa operação conjunta desdobrada em duas, em março e neste mês de abril, e intitulada Cordilheira, liderada pela Sema e com a participação do Ministério Público Estadual (MP), Delegacia Especializada do Meio Ambiente (Dema) e apoio da Polícia Militar de Proteção Ambiental, as propriedades foram embargadas e o proprietário multado em 2,8 bilhões de reais.
Não houve prevenção. A ação da Cordilheira foi punitiva, depois da devastação causada ao bioma Pantanal, na bacia do rio Cuiabá.
A Sema tem sofisticado sistema de monitoramento por satélite em tempo real e conta com equipes móveis que percorrem propriedades, mas não conseguiu notar o que acontecia em Barão de Melgaço. Neste caso o questionamento tem que ser duplo: foi negligência ou conivência?
Sem prejuízo da ação movida contra Claudecy Oliveira Lemes – que permaneceu calado quando foi à Dema para ser ouvido no inquérito que apura o crime ambiental sem precedentes em Mato Grosso – o MP e a Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa devem investigar o que se esconde por trás desse episódio. A Comissão da Assembleia é presidida pelo deputado Carlos Avallone (PSDB).
Permitir que o caso se encerre apenas com a responsabilização de Claudecy é uma porta aberta para que novos crimes ambientais ocorram sem que a Sema consiga se antecipar aos mesmos ou estancá-los no primeiro momento.
Após o escândalo do desmatamento em Barão ganhar as manchetes nacionais, o governador Mauro Mendes (União) defendeu o uso da inteligência artificial na fiscalização ambiental. O governante, no entanto, não reconheceu que houve falha da Sema nesse episódio que deixa uma cicatriz de esterilidade numa área significativa da flora pantaneira em Barão de Melgaço.
CORDILHEIRA – O nome da operação é referência aos trechos elevados no Pantanal, onde as águas altas não alcançam e os animais se protegem – como se estivessem na bíblica Arca de Noé – à espera da vazante, quando o aguaceiro cede lugar à vida rotineira na maior planície alagável do mundo.
Excelente texto, Eduardo Gomes. Parabéns por relatar um caso como esse com a devida autonomia e imparcialidade.
Yael Diz
Como sempre, seu texto é cirúrgico!
Parabéns, Eduardo
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Excelente texto, Eduardo Gomes. Parabéns por relatar um caso como esse com a devida autonomia e imparcialidade.
Como sempre, seu texto é cirúrgico!
Parabéns, Eduardo