SÉRIE – Sete querem o governo – Janaína Riva
Eduardo Gomes
@andradeeduardogomes
eduardogomes.ega@gmail.com
Um dos mais renomados publicitários mato-grossenses convidou-me para uma reunião política em sua casa, num bairro nobre em Cuiabá. Confesso que sou arredio a esse tipo de evento, mas em atenção ao anfitrião, fui. Estava em curso o período eleitoral de 2014. A figura central para que ele reunisse vizinhos, parentes, amigos e conhecidos era pouco mais que uma menina. Atento, ouvi seu pronunciamento forte, denotando convicção naquilo que dizia. Em determinado trecho, com outras palavras, de cabeça erguida e com o dedo indicador em riste, revelou que era vítima de uma sórdida campanha difamatória que espalhava informações dando conta de que a mesma apesar da juventude, estava no terceiro casamento. Destemida, independente, a oradora sustentou que tudo era falácia, mas que se fosse preciso, se casaria mil vezes em busca da felicidade. Ladeada pelos pais, ambos com semblantes emocionados, ela encerrou a fala, sob aplausos, pedindo votos para deputada estadual e para sua mãe Janete Riva ao governo.
Com seis homens e uma mulher citados para a disputa do Palácio Paiaguás em 2026, a série Sete querem o governo chega ao fim focalizando a deputada estadual Janaína Riva (MDB).
ELA – Claro que a candidata que ouvi na casa do publicitário é Janaína Greyce Riva Moreira Lima, que nasceu em Juara, no dia 27 de janeiro de 1989.
Janaína Riva em 2011 concluiu o curso de Direito, em Cuiabá. É filha de José Geraldo Riva e Janete Riva; o pai elegeu-se prefeito de Juara, e no período de 1995 a 2014 foi mandachuva na Assembleia Legislativa revezando nos cargos de presidente e 1º secretário da mesa diretora, e sempre sendo o mais votado ao cargo de deputado estadual; a mãe foi candidata a vice-governadora de Antero Paes de Barros, pelo PSDB, em 2002, e concorreu ao governo em 2014, pelo PSD, em ambas, sem sucesso. Ela é nora do senador liberal Wellington Fagundes – sobre Wellington leiam o capítulo que o focaliza nesta série.
Janaína disputou e venceu três eleições para deputada estadual. Em 2014, pelo PSD, recebeu 48.171 votos, ficando em segundo lugar – o campeão foi Mauro Savi (PR); em 2018 e 2022, em ambas pelo MDB, cravou a maior votação ao cargo: 51.546 e 82.124 votos respectivamente.
Na primeira eleição Janaína Riva não era conhecida em Mato Grosso e sua consagração nas urnas não foi obra do acaso: ela contou com o eleitorado de seu pai, o então deputado estadual José Riva, que naquele momento estava impedido de disputar eleição por haver sido alcançado pela Lei da Ficha Limpa. Riva fazia política 25 horas por dias e não foi difícil usar sua estrutura para a caminhada da filha. Mas é preciso reconhecer que a estreante em política marcava presença por onde passava, pela força de seu discurso, como aquele que ouvi na reunião na casa do publicitário em Cuiabá. No mesmo pleito Janete disputou o governo, mas com votação acanhada, porque havia tendência para o voto no senador Pedro Taques, que simbolizava renovação política e prometia ser implacável com os corruptos.
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DEPUTADA – Eleita em 2014 aos 25 anos num momento delicado vivido por Riva, acuado pelo Ministério Público e citado pela imprensa como o maior ficha suja do Brasil, imaginei que ela precisaria de muita habilidade para blindar seu pai e cumprir seu mandato. Transcorridos pouco mais de 10 anos daquele cenário, o mesmo pode parecer abstrato para alguns, por conta da volatilização dos fatos graças ao estilo editorial que dita o noticiário em boa parte dos sites considerados os principais de Mato Grosso. Para entender o que esperava a jovem deputada em seus primeiros passos na Assembleia é preciso fazer uma contextualização:

Em Mato Grosso sempre foi comum o governador entregar secretarias de porteira fechada para seus parceiros. Juntamente com Janaína Riva na Assembleia, Taques (PDT) chegou ao Palácio Paiaguás numa imaginária viatura policial, com a sirene ligada e disposto a prender meio mundo. E o fez. A prática da porteira fechada é tradicional, mas todos, indistintamente, a negam e não é fácil prová-la nos moldes exigidos pela legislação, porém, pelo menos uma vez a mesma foi cristalizada.
Em 2011 o governador Silval Barbosa – que sucedeu Blairo Maggi e governou de março a dezembro de 2010 – tomou posse para o segundo mandato, numa solenidade no Centro de Eventos do Pantanal. Ele sorria, seu grupo em peso era um riso só, mas nos bastidores, segundo uma fonte confiável, o clima entre eles era de briga com sangue nas canelas. Chico Daltro (PP) era o vice-governador.
Chico Daltro e Riva formavam uma dobradinha política inseparável, e Chico Daltro somente foi aceito por Silval, por conta de Riva. Os dois apresentaram uma fatura para a governabilidade e o governante teve que entregar de porteira fechada um pedaço de seu governo.
Num ato atípico, no Centro de Eventos do Pantanal, imediatamente após a posse, Silval assinou um decreto transferindo a administração de parcela do seu governo para Chico Daltro dando-lhe poder para responder pela articulação e gestão das relações internacionais do governo; a coordenação e viabilização dos projetos estratégicos para o desenvolvimento do Estado; a coordenação das políticas de Telecomunicações; a coordenação das ações da Defesa Civil e Políticas Indígenas; o gerenciamento do Centro de Processamento de Dados do Estado de Mato Grosso (Cepromat); e as administrações da Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos Delegados de Mato Grosso (Ager), da Agência de Fomento do Estado de Mato Grosso S. A. (MT Fomento) e do Escritório de Representação de Mato Grosso em Brasília (Ermat).

Com a fatia recebida de porteira fechada, Riva e Chico Daltro nomeariam quem quisessem para o cargo.
Voltemos ao governador Taques chegando no Paiaguás na imaginária viatura com a sirene ligada. Antes de esquentar a cadeira, o governante mandou para o xilindró Silval, a ex-primeira-dama Roseli Barbosa, e boa parte da cúpula do poder no período de Silval, e dentre os presos, Éder Moraes, Silvio César Correa Araújo, Marcel de Cursi, Pedro Nadaf, César Zílio, Pedro Elias, José Nunes Cordeiro e Arnaldo Alves. Mas, seu aguçado olhar de ex-procurador da República foi desviado das áreas dominadas por Riva e Chico Daltro.
Taques não botou Riva e Chico Daltro entre os que estavam sob investigação por participação no governo de Silval. Esse fato passou despercebido, porque no período Riva foi preso algumas vezes, mas sob acusação de desvio de milhões na Assembleia, sem nenhuma ligação com o governo. Em delação premiada Riva reconheceu que liderou um esquema que desviou 175 milhões da Assembleia, e recebeu uma pena branda, além de devolver 92 milhões. Esse escândalo, segundo Riva, aconteceu ao longo de seu domínio sobre o Parlamento Estadual e teria a participação de mais de três dezenas de cabeças coroadas da política, e dentre elas Mauro Savi, Silval, Gilmar Fabris, Maksuês Leite, Campos Neto, João Malheiros, Guilherme Maluf, Chica Nunes, Nilson Santos, Walter Rabelo, Ademir Brunetto, Antônio Brito, Wagner Ramos, José Domingos Fraga Filho, Percival Muniz, Juarez Costa, Alencar Soares, Dilceu Dal’Bosco, Sérgio Ricardo, Pedro Satélite, Renê Barbour, José Carlos de Freitas, Humberto Bosaipo, Nataniel de Jesus, Adalto de Freitas, Walace Guimarães e Chico Galindo – todos negam envolvimento. O nome de Chico Daltro sequer apareceu no noticiário.
Riva e Chico Daltro foram poupados por Taques. Janaína Riva assumiu sua cadeira na Assembleia, mas fez oposição moderadíssima a Taques, conduta essa chamada nos meios jornalísticos de oposição colaborativa. Nos escândalos da Grampolândia Pantaneira e no rombo de milhões na construção e reforma de escolas, sua fala foi pouco mais que silêncio; apurou-se que na área da Educação, cujo secretário era Permínio Pinto, o rombo foi enorme, e teria as digitais de servidores indicados pelo então deputado federal Nilson Leitão e o deputado estadual Guilherme Maluf, todos, a exemplo de Permínio e Taques, tucanos.
Hábil na oratória, respeitada por ser mulher e compartilhar o Parlamento com vários deputados que foram liderados por Riva, Janaína Riva soube ocupar espaço na mídia e nas redes sociais, mas sem questionar Taques pelos erros de seu governo. Porém, seu desempenho parlamentar objetivo sempre foi fraco. Quem procurar leis relevantes de autoria de Janaína Riva não as encontrará. Seu pai, que foi considerado o grande político mato-grossense, exerceu mandato de deputado por 20 anos, período em que deu as cartas na Assembleia, mas não conseguiu interligar Juara à rede rodoviária pavimentada e não teve força para pavimentar o aeroporto de sua cidade.
O leitor, acostumado ao jornalismo de superficialidade, não percebe a linha parlamentar de Janaína Riva. Mas, não é apenas isso: Riva foi o grande construtor do PSD em Mato Grosso, e por isso, recebeu elogios do cacique Gilberto Kassab, porém, a deputada deixou aquela sigla e foi para o MDB controlado com mão de ferro por Carlos Bezerra.
A filiação de Janaína Riva ao MDB foi tratada com naturalidade pela mídia. A mudança interessava a Taques, que assim ficava sem a sucessora política de Riva à frente de um partido forte, com prefeitos, deputados e vereadores. Coincidentemente ou não, o PSD foi entregue por Kassab para Carlos Fávaro, que era vice de Taques e filiado ao PP. Para não ser repetitivo sugiro a leitura do capítulo sobre Carlos Fávaro, onde o assunto tem detalhamento.
Em suma: Janaína Riva além de não questionar Taques, ainda abriu espaço para Fávaro controlar o PSD. Muito estranho tudo isso, principalmente quando se sabe que Riva era cultuado por líderes municipais Mato Grosso afora e ganhava contornos de entidade. Em consequência da saída de Janaína Riva da sigla, houve debandada de filiados para vários partidos e ela nunca ocupou lugar de destaque no agora PMDB. Bezerra envelheceu a articula sua sucessão sendo o nome mais cotado para substitui-lo o do deputado federal reeleito Juarez Costa.
Voltemos à deputada:
A prática da porteira fechada não é reconhecida oficialmente, mas persiste. Em janeiro de 2024 a ex-deputada estadual e federal Teté Bezerra deixou a Secretaria de Agricultura Familiar (Seaf), para a qual foi nomeada a pedido de seu marido Carlos Bezerra, como parte do fatiamento do poder. Para o lugar de Teté, o governador Mauro Mendes (União) nomeou Luiz Artur de Oliveira Ribeiro, o Luluca Ribeiro. Em 12 de maio de 2024, às 13h30 o site www.rdenews.com.br estampou Janaína emplaca Luluca na Seaf.
Didaticamente: Teté saiu da Seaf e Janaína Riva escolheu Luluca para substituí-la. Luluca é marido de Quézia Limoeiro, chefe de gabinete de Janaina Riva. Ainda envolto em densas nuvens do chamado abafa, sabe-se que a Controladoria-Geral do Estado teria descoberto movimentações atípicas de emendas parlamentares estaduais na Seaf, sob Luluca, e que o montante chegaria a 46,76 milhões. Quanto a isso impera o silêncio e o governo estranhamente congela esse episódio.
Lamentável o abafa do caso Luluca, o que impede Mato Grosso de conhecer os fatos com clareza, e deixa em saia justa deputados por se tratar de execução de emendas parlamentares estaduais. Tanto a Polícia Civil quanto o Ministério Pública precisam passar o episódio a limpo. Afinal, trata-se de gestão de dinheiro público.
Mauro Mendes demitiu Luluca e seus assessores comissionados. Janaína Riva não polemizou. Coincidentemente ou não, a deputada era anunciada na mídia enquanto candidata a 1ª secretária da mesa diretora da Assembleia, mas a mão política pesada de Mauro Mendes, sem deixar impressão digital, não permitiu que ela sequer participasse da composição da mesa. Riva, o pai, no auge do noticiário sobre a pressão do governante contra sua filha, disse que, Mauro vai conhecer Janaína Riva. A saída foi o MDB indicar Dr. João José para o cargo que a deputada queira, porque o mesmo, pela força da bancada emedebista teria que ser destinado àquele partido. Mais: na indicação dos nomes para presidir as 14 comissões permanentes da Assembleia, Janaína Riva foi preterida, enquanto seu correligionário Thiago Silva ganhou a presidência da Comissão de Educação, Ciência, Tecnologia, Cultura e Desporto.
Também, coincidentemente, o caso Luluca está abafado há praticamente um ano, sem que o governante toque nesse assunto. O abafa é compartilhado pela mídia, que o desqualificou. Em meio ao silêncio o nome de Janaína Riva permanece entre os que querem governar Mato Grosso. A deputada ainda é citada para outros cargos; recentemente no Cenarium Rural em Cuiabá, Michel Temer disse que ela tem bom perfil para ser senadora ou deputada federal.
Janaína Riva é considerada dinâmica e boa política. Seu gabinete é verdadeira engrenagem eleitoral, e políticos não medem elogios ao mesmo, que tem em sua composição ex-servidores de Riva, que conhecem Mato Grosso como a palma da mão.
Desde que assumiu o primeiro mandato e até recentemente, a Assembleia em peso reverenciava Janaína Riva, que chegou à sua vice-presidência. Porém desde que seu nome despontou para disputar o governo paralelamente com o caso Luluca, as luzes foram apagando-se para ela e seu espaço na mídia encolheu, muito embora ela mantenha intensa presença em suas redes sociais. No passado a reverência a ela era tão grande, que a Assembleia botou sua foto na galeria oficial dos ex-presidentes, cargo que na titularidade Janaína Riva nunca exerceu, muito embora o tenha ocupado durante um período de férias do então presidente Eduardo Botelho (União) – Esse fato distorce a real composição da Presidência ao longo da história parlamentar. Em termos ilustrativos, o vice-governador Otaviano Pivetta (Republicanos) substituiu Mauro Mendes 13 vezes, mas nem por isso sua foto irá para a galeria dos ex-governadores.

O tempo entre Mauro Mendes e Janaína Riva fechou de tal modo, que nem mesmo nas solenidades do programa SER Mulher, conduzido pela primeira-dama Virgínia Mendes, a deputada participa. Virgínia é a segunda pessoa mais focalizada pelos sites, onde aborda os mais diversos assuntos e recebe tratamento preferencial, porém a deputada jamais é citada por ela ou a acompanha em seus incontáveis eventos nos municípios.
Somente o senhor poderia e saberia escrever uma série tão rica em informações. Continuo sendo sua fã número 1.
Maria Isaura