Taques tenta apagar a memória da luta contra a aftosa
Numa coletiva na manhã desta segunda-feira, 15, na sede do Instituto de Defesa Agropecuária (Indea), em Cuiabá, seu presidente Guilherme Nolasco apresentou o resultado da vacinação contra a febre aftosa realizada em novembro do ano passado e específica para bovinos e bubalinos com até 24 meses. A cobertura vacinal alcançou 99,70%, o que tecnicamente pode ser considerado 100% – receberam a dose 13.957.559 dos 13.990.525 animais existentes.
Quanto ao resultado, nada de excepcional. Seu percentual alcançado está dentro dos parâmetros registrados há duas décadas. A excepcionalidade fica por conta da indiferença do governo Pedro Taques com a história da luta pela erradicação dessa doença de forte apelo econômico.
Se o governo Taques tivesse o mínimo de sensibilidade, ao invés de fazer o anúncio no dia 15 o faria no dia 16 em respeito àquela data por seu significado para a cadeia pecuária e a economia mato-grossense como um todo.
O emblemático 16 de janeiro marca a data da notificação do último foco de aftosa em Mato Grosso. Foi no distante 16 de janeiro de 1996, no município de Terra Nova do Norte, que técnicos do Indea registraram clinicamente a presença da doença em animais de um pequeno rebanho – nunca houve comprovação laboratorial. Desde então, a aftosa foi banida das invernadas e confinamentos mato-grossenses.
Com a superação da doença Mato Grosso ganhou status de zona livre de aftosa com vacinação e exporta carne para os quatro cantos do mundo.
A colonização de Mato Grosso começou com o garimpo e a pecuária. Essa segunda atividade sempre foi o pilar da economia local e permanece sólida, respondendo pelo abastecimento interno, por boa parte da carne consumida nacionalmente e tem peso importante na balança comercial.
A vitória sobre a aftosa tem data a ser comemorada e nomes a serem respeitados. O grande responsável pelo avanço sanitário animal foi o pecuarista. Mas, para que mudasse seus costumes e passasse a vacinar seu rebanho, Mato Grosso promoveu uma verdadeira cruzada da porteira para dentro e para fora. À frente dessa luta esteve o então presidente da Federação da Agricultura e Pecuária (Famato), que acumulava a presidência do Fundo Emergencial da Febre Aftosa (Fefa), Zeca D’Ávila; mais tarde o Fefa extinto.
A Secretaria de Agricultura de Mato Grosso, ao longo do período, por meio de seu vinculado Indea, cumpriu bem sua missão no combate à doença. Seus secretários, Aréssio Paquer, Érico Pianna, Wilson Santos, Chico Daltro, Heitor David, Homero Pereira, Otaviano Pivetta, Jilson Francisco, Neldo Egon, Rodrigues Palma e os demais, foram parceiros de primeira hora da pecuária.
A delegacia do Ministério da Agricultura em Mato Grosso foi extremamente importante para a execução da política sanitária animal. Seus titulares iam além de suas obrigações funcionais e abraçavam a causa de modo entusiástico.
Zeca liderava um grupo formado pelos veterinários Alzira Catunda, Ênio Arruda, Décio Coutinho e Luiz Carlos Meister; pelo leiloeiro Kleiber Leite Pereira; pelo empresário do ramo frigorifico Luiz Antônio Freitas Martins; pelos pecuaristas e sindicalistas – alguns não mais entre nós – Zelito Dorileo (Poconê), Paulo Garcia Nanô (Cáceres), Otaviano Alves (Pedra Preta), Manequinho Albernaz (Chapada dos Guimarães), José Lino – Cabeção (Juína), Vasco Mil-Homens (Barra do Garças), Wolfgang Dankmar Gunther Hornscuch (Porto Alegre do Norte), Rui Prado (Campo Novo do Parecis), Fernando Tulha (São José do Xingu), Eliezer Alves Carvalho (Guiratinga), José Ribeiro (Arenápolis), Manoel Paulino (Araputanga), José Teixeira – o Zé da Guará (Vila Bela da Santíssima Trindade), Theonilo Ramos de Arruda – o Bilo (Acorizal), Darci Heemmann (Querência), José Almir da Silva (Terra Nova do Norte) e tantos outros.
Graças ao trabalho do pelotão que enfrentou a aftosa, Mato Grosso fechou 2017 com um volume exportado de US$ 1,24 bilhão (FOB) de carne bovina, miúdos e couro, sem incluir leite e lácteos. Somem-se a isso a geração de emprego na cadeia pecuária, do curral ao supermercado, do transporte à venda de vacinas etc.
Números do Indea com base na vacinação de mamando a caducando em novembro de 2016 mostram que em 105.346 propriedades nos 141 municípios há atividade da pecuária bovina e bubalina, com um rebanho universal de 30.230.624 cabeças (sendo 15.845 bubalinas). Mais: esse balanço mantém Mato Grosso no topo da pecuária nacional, situação em que se encontra há mais de uma década.
Essa é a realidade. Taques não pode usar o governo como um feudo de seu grupo político tentando absorver o resultado positivo da atividade econômica para sua administração e apresentar números da taxa de cobertura vacinal como se os mesmos tivessem surgidos após sua posse.
Lamentável a atitude de Taques que joga a data de 16 de janeiro debaixo do tapete. Lamentável que ele não tenha a humildade suficiente para reconhecer que os frutos de agora são resultados de uma longa trajetória suprapartidária – e também apartidária – de enfrentamento que leva as impressões digitais do pecuarista mato-grossense.
Eduardo Gomes de Andrade
Editor
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