40 Anos – Um atentado muito midiático
Aos sábados, domingos e feriados nacionais CURTAS será substituída por capítulos do livro “Dois dedos de prosa em silêncio – pra rir, refletir e arguir“, escrito e publicado em 2015 pelo jornalista Eduardo Gomes de Andrade, sem apoio das leis de incentivos culturais. A obra foi ilustrada por Generino. Capa: Édson Xavier.
Capítulo:
Um atentado muito midiático
Em 1982, Carlos Bezerra (PMDB) elegeu-se prefeito de Rondonópolis, e Júlio Campos (PDS), governador. Na campanha, Bezerra foi destaque na imprensa mato-grossense. Após a posse, Júlio deu ordem às Redações em Cuiabá: nada de Bezerra.
O prefeito Bezerra precisava de espaço nos jornais para alcançar seu grande objetivo: se eleger governador em 1986, o que efetivamente aconteceu.
Os primeiros dias da administração de Bezerra transcorreram sem registro jornalístico em Cuiabá. Aquilo incomodava o prefeito. Tanto incomodava que ele traçou um maquiavélico plano para ganhar as manchetes.
Mato Grosso abalou-se. Rondonópolis emocionou-se com a notícia: Bezerra vítima de atentado! Isso mesmo.
As manchetes diziam que um pistoleiro encapuzado entrou na Cerâmica São Carlos, do prefeito, e foi até sua residência, ao lado daquela indústria, para matá-lo. Bezerra teria escapado por um triz. Alguns jornais afirmavam que foram efetuados vários disparos. Outros, modestos, davam conta de um tiro, quase certeiro. No rádio falava-se que alguém desviou o cano da arma e o salvou.
O cargo mais importante na prefeitura rondonopolitana é o de presidente da Companhia de Desenvolvimento de Rondonópolis (Coder), empresa que gerencia o filé financeiro do município. O presidente da Coder, Osmir Pontin, resolveu por conta própria apurar o atentado.
Pontin até ser nomeado presidente da Coder era capitão do Exército e serviu no 18º Grupo de Artilharia de Campanha (18º GAC) de Rondonópolis. De formação militar, o importante integrante do staff de Bezerra não passava de aprendiz de político.
O trânsito de Pontin era bom entre os militares. E ele decidiu fazer extraoficialmente e de modo discreto, a reconstituição do atentado, para facilitar o trabalho do delegado de polícia encarregado do caso.
Numa tarde, o presidente da Coder levou alguns militares à cerâmica, e telefonou para Bezerra ir até lá, participar da reconstituição. O prefeito foi e levou consigo vários seguidores, sem, no entanto, dizer a eles o motivo.
Todos ficaram assustados quando viram aqueles militares fortes e armados. Bezerra deu ordem para que ninguém descesse do carro. Falou reservadamente com Pontin e mandou que ele despachasse os homens. Diante da resistência do ex-capitão na elucidação, o prefeito foi taxativo:
– Pontin, esse atentado é pra ser divulgado; não pra ser apurado! E botou ponto final na conversa.
Com ar misterioso, Bezerra deu a entender aos seguidores que Brasília investigava o atentado porque a polícia de Júlio não era confiável.
EDUARDO GOMES/blogdoeduardogomes
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