Universidade Federal de Rondonópolis: A força do povo
A UFR tem em seu DNA a força da luta, a vontade sadia e a esperança da sociedade do sudeste mato-grossense.
A história dessa instituição tem uma relação simbiótica com a de Rondonópolis e região. Sua trajetória é marcada por seis etapas.
1ª: 31/03/1976 a 12/02/1992 – com a criação do Centro Pedagógico de Rondonópolis à transformação em Câmpus Universitário de Rondonópolis.
2ª: 1992 a 2004 – surgimento do movimento organizado em prol da emancipação do Câmpus. Ao mesmo tempo em que foram implantados três novos cursos, acentuaram as desigualdades de tratamento do Câmpus em relação à sede Cuiabá. Nesse sentido, as lideranças do CUR decidiram unir-se e imprimir ações concretas para conquistar autonomia.

3ª: 2005 a 2008 – entrega do projeto de criação da UFR ao Ministério da Educação (MEC). Nesse período, os novos dirigentes do Câmpus, eleitos em 2004, uniram-se com a ADUFMAT e outros segmentos da Comunidade Universitária para construir um projeto político estratégico, com a finalidade de se transformar em universidade autônoma. As principais ações foram: elaboração coletiva e democrática de um Plano de Desenvolvimento Institucional do Câmpus, que foi incluído no planejamento estratégico da UFMT; mobilização das forças sociais rondonopolitanas para lutar pela criação da nova universidade. Esse foi o período mais promissor da história do Câmpus e seu ápice foi a entrega do Projeto de Criação da UFR ao MEC, em julho de 2008.

4ª: Meados de 2008 a 2011 – Governo Federal apresentou exigências para criação da nova universidade e, três anos depois foi entregue o Projeto Reformulado ao MEC. Nesse período foram criados programas de mestrado e novos cursos de graduação, houve ampliação do quadro de recursos humanos e de vagas estudantis, de acordo com as diretrizes impostas pelo Ministro da Educação.
5ª: 2011 a 20/03/2018 – início da luta política pela aprovação do Projeto de criação e, após sete anos, assinatura da lei nº 13.637/2018, que criou a UFR. Depois da entrega do Projeto reformulado, as lideranças do movimento confirmaram as suspeitas de que o problema da emancipação era político. Tal período foi de intensa mobilização política para que o objetivo fosse alcançado e deu continuidade ao processo de crescimento e melhoria dos cursos e estrutura do Câmpus.
6ª: A partir de 2018, foi iniciado o processo de implantação da UFR, com a transferência patrimonial, criação de uma estrutura administrativa e organização acadêmica.
Da criação da UFR à pandemia: dilemas e desafios
Dois anos após a criação da UFR, as instituições de Ensino Superior avaliam que o cenário político nacional não é favorável ao ensino, pesquisa, inovação tecnológica e extensão universitária. Além da instabilidade institucional e incertezas políticas no Brasil, o mundo foi impactado com a pandemia do COVID-19.
A situação vivida em 2020 é um desafio, porém, é papel das universidades e, particularmente da UFR, ser vanguarda institucional propositora de soluções para problemas que exigem intervenção das ciências. Esse é um dilema, considerando que há forças políticas governamentais que negam os valores científicos e sentem aversão à intelectualidade. Tal fato aumenta a responsabilidade social das universidades. A maioria dos profissionais da UFR tem consciência de que necessita de planejamento estratégico, a ser elaborado coletivamente de forma democrática e voltado para o bem estar social. Vejamos, pontualmente, algumas potencialidades e desafios a serem vencidos neste momento histórico.
Atualmente, a UFR tem 19 cursos regulares presenciais de graduação, incluindo um de Ciências da Informação. Todavia, depois de 120 dias de pandemia, ela não conseguiu elaborar um plano institucional para dar continuidade às atividades por meio de aulas remotas. O desafio é ingressar academicamente na era digital, fato que não é novo, mas que ainda encontra resistência em setores conservadores da educação.
Parte dos docentes da UFR tem uma significativa produção científica, com importantes publicações em revistas nacionais e internacionais e projetos regionais de ponta. No entanto, existem cursos com baixa procura de estudantes, excessiva evasão escolar e baixo desempenho docente. Um dos desafios é despir-se do corporativismo, reformular cursos que não atendem as necessidades sociais e criar outros que são demandados pela sociedade, incluindo novos programas de mestrado e doutorado.
É oportuno avançar para não regredir. É urgente a aquisição de uma fazenda e/ou campos experimentais, a fim de propiciar formação mais qualificada aos estudantes e melhores condições de trabalho aos profissionais dos cursos de ciências agrárias e tecnológicas. Outra urgência é a construção de um hospital universitário. Esse desafio é extensivo ao poder público municipal, que precisa doar terreno para a construção do Câmpus II, a ser destinado para a saúde. Também os políticos regionais têm o dever de viabilizar recursos estaduais e federais para essas duas ampliações.
A UFR possui cerca de 360 docentes, 90 técnicos administrativos e emprega dezenas de trabalhadores terceirizados. No entanto, no plano administrativo, a nova universidade vive uma situação de provisoriedade. A Reitora é nomeada pró-tempore e o corpo administrativo existente atua em condições provisórias porque não está alocado em cargos e funções legalmente constituídos. Isso exige a atuação dos parlamentares de Mato Grosso.
No plano organizacional, foi criado o Conselho Universitário. Atualmente sua composição é provisória, com contestável legitimidade. Ele acumula poderes de dois outros conselhos: o CONSEPE – Ensino, Pesquisa e Extensão (cuida da parte acadêmica) e o Conselho Diretor (tem função de gerir o patrimônio e assegurar que as finanças da instituição sejam aplicadas de acordo com os objetivos previstos na legislação do Ensino Superior). Essa situação inusitada tem causado instabilidade e conflitos de interesses. O MEC tem responsabilidade nisso porque não legaliza, nem supre a estrutura organizacional da instituição. Setores oportunistas internos à UFR pioram a situação ao tentar se apoderar dessa provisoriedade para beneficiar determinados cursos e propósitos políticos, em detrimento do coletivo universitário.
Parece-nos que este é um daqueles momentos em que se deve olhar, ao mesmo tempo, para o retrovisor e para o horizonte da história. A conquista da UFR iniciou com a união da comunidade universitária e da sociedade em torno de um Plano Institucional feito com a participação democrática. O Plano da nova Universidade precisa e pode ser audacioso, porque a UFR, como todo mundo sabe, tem em seu DNA a força da luta, a vontade sadia e a esperança da sociedade.
A administração provisória está assim constituída: Reitora Dra. Analy Castilho Polizel de Souza; vice-Reitora Dra. Antônia Marília Medeiros Nardes e os seguintes pró-reitores: Dra. Edna Maria Bonfim da Silva (PROPIT – Pós-graduação, Pesquisa e Inovação Tecnológica); Dr. Ronei Coelho de Lima (PROEG – Graduação); Dr. Josemar Ribeiro de Oliveira (PROPLAD – Planejamento e Administração); Sr. Jorge Gustavo Fachim Farias (PROTIC – Tecnologia da Informação e Comunicação); Dr. Jofran Luiz de Oliveira (SECRI – Secretário de Relações Internacionais) e Dra. Claudineia de Araújo (PROECE – Extensão, Cultura e Assuntos Estudantis).
Dr. Paulo Augusto Mario Isaac – professor aposentado da UFMT, cientista social e um dos líderes do movimento Pró-UFR.
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