VÁRZEA GRANDE 153 ANOS – Gabriel Müller
O Brasil conheceu a Rodovia Transpantaneira por meio de uma reportagem da extinta Revista “Realidade”, há 45 anos. Conheceu também o engenheiro agrônomo Gabriel Júlio de Mattos Müller, presidente da Companhia de Desenvolvimento do Estado de Mato Grosso (Codemat), que respondia pelo audacioso projeto para ligar por terra Poconé a Corumbá rasgando ao meio a imensidão alagada do Pantanal Mato-grossense.
TRANSPANTANEIRA – Esta rodovia avançou 140 quilômetros pelo município de Poconé chegando à margem direita do rio Cuiabá. Pelo caminho 124 pontes pequenas e médias sobre corixos mostram o grau de dificuldade que foi sua construção. A obra foi cumprida na parte que seria remanescente mato-grossense após a divisão territorial para a criação de Mato Grosso do Sul, mas não foi executada no trecho da área secccionada.
No primeiro momento a meta com a Transpantaneira era a criação do multimodal pioneiro de transporte no Brasil interior, com três matrizes: ferroviária, de São Paulo a Corumbá (hoje MS); hidroviária, de Corumbá a Porto Jofre, no município de Poconé, no baixo Pantanal, pelos rios Paraguai e seu afluente Cuiabá; e rodoviária, de Poconé a Cuiabá. Num segundo passo a ligação rodoviária se estenderia de Poconé a Corumbá sendo alternativa durante as águas baixas no Pantanal para o transporte fluvial no trajeto.
Em suma, a meta era a criação da primeira logística de transporte mato-grossense integrando ferrovia, hidrovia e rodovia.
O plano da construção era parte do programa de integração nacional idealizado pelo governo militar instalado em 1964. Porém, por falta de visão do governo federal – que era o grande financiador do projeto – Brasília o inviabilizou.
Transpantaneira é a MT-060, que entre Poconé e Porto Jofre foi construída sobre aterro que cruza incontáveis corixos. Nesse trajeto ela é Estrada-Parque e recebeu a denominação de Rodovia José Vicente Dorileo – Zelito Dorileo, por uma lei de autoria do deputado estadual Paulo Moura sancionada em 21 de janeiro de 1999 pelo governador Dante de Oliveira.
A construção da Transpantaneira começou em 5 de setembro de 1972 quando Mato Grosso era governado por José Manuel Fontanillas Fragelli. Na obra trabalharam sob a liderança de Gabriel Müller os engenheiros Enzo Perri, Hilton Campos (foi deputado estadual e prefeito de Juína), Kikuo Ninomiya Miguel (foi deputado estadual) e outros.
VIDA INTENSA – Também dirigindo a Codemat Gabriel Müller chefiou a construção do Estádio Verdão, em Cuiabá, e de seu similar, o Morenão, em Campo Grande – agora capital de Mato Grosso do Sul. De igual modo construiu a pequena central hidrelétrica (PCH) da Cemat – à época estatal – no rio Paraguai, em Alto Paraguai. O linhão de transmissão de energia elétrica de Campo Grande para Aquidauana e Corumbá. E quando o Programa Integrado de Desenvolvimento do Brasil (Polonoroeste) pavimentou as rodovias 163 e 364, participou dessas importantes obras enquanto representante da Codemat, que foi parceira da União.
Gabriel Müller foi prefeito de Várzea Grande e deixou o cargo para disputar eleição à Assembleia Legislativa tendo conquistado suplência de deputado estadual pela Aliança Renovadora Nacional (Arena). Também foi governador distrital do Rotary Club.
Na vida sindical Gabriel Müller presidiu a Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso (Famato) e foi um dos fundadores de sua coirmã de Mato Grosso do Sul (Famasul).
GABRIELZÃO – Realidade era uma espécie de Veja da época e definiu Gabriel Müller denominando-o de Gabrielzão, Big Gabriel e Gigante do Pantanal, mas na verdade, os peões e técnicos que trabalhavam na Transpantaneira o chamavam de Tuiuiú, em razão de seu porte avantajado.
O pai de Gabriel Müller, Fenelon Müller, era cuiabano com sangue alemão e engenheiro civil da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil. Lotado em Três Lagoas, Fenelon foi nomeado intendente (cargo equivalente a prefeito) daquele município, onde nasceram três de seus filhos e dentre eles, Gabriel Müller.
Descendente de tradicional família política mato-grossense, na qual se destacaram Filinto Müller (tio) e Gastão Müller (seu irmão), ambos senadores, Gabriel Júlio de Mattos Müller nasceu em Três Lagoas, que à época pertencia a Mato Grosso e que agora é município de Mato Grosso do Sul.
Em 11 de novembro de 2009, aos 84 anos, em Cuiabá, Gabriel Müller fechou os olhos para sempre.
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