Várzea Grande é uma cidade com 300 mil habitantes à margem do rio Cuiabá, mas sua população enfrenta desabastecimento de água, muito embora até recentemente o cenário de torneira seca fosse ainda pior. Num ambiente assim, uma operação policial dita para combater um esquema de propinas e ameaças no Departamento de Água e Esgoto (DAE) ganha repercussão e aquele que for apontado como participante do citado esquema, pode cair na vala comum. O vereador e candidato à reeleição, Pablo Pereira (União) foi citado como cabeça do esquema, mas nega qualquer tipo de participação no mesmo e sustenta que não dirige nem controla o DAE. A Polícia Civil sustenta que há muita água suja no DAE, e o nome de Pablo Pereira foi lançado nesta sujeira.
A população, que enfrenta problema com a falta d’água, se agita com a denúncia do esquema no DAE anunciado por manchetes. É preciso que a realidade dos fatos chegue ao público de modo isento, sem sensacionalismo.
GOTA D’ÁGUA – Na sexta-feira, 20, a Delegacia Especializada de Combate à Corrupção (Deccor) da Polícia Civil deflagrou a Operação Gota D’Água para, segundo ela, desarticular uma organização criminosa instalada na Diretoria Comercial do DAE desde 2019. Gota D’Água cumpriu 123 mandados judiciais expedidos pelo juiz João Bosco Soares da Silva, do Núcleo de Inquéritos Policiais de Cuiabá (Nipo), sendo 11 prisões preventivas, sequestro de bens, bloqueio de valores, medidas cautelares e suspensão de funções públicas. A operação mobilizou 120 policiais. Dentre os presos e que foram afastados de suas funções, o vereador Pablo Pereira, que foi encaminhado à Penitenciária de Mata Grande, em Rondonópolis. Cópia da investigação foi encaminhada para a Procuradoria Regional Eleitoral, para apuração de eventual crime eleitoral. Além dos mandados, o magistrado determinou intervenção da prefeitura no Departamento Comercial do DAE, o que resultou na exoneração de seu diretor, Alessandro Macaúbas Leite de Campos, pelo prefeito Kalil Baracat (MDB), no dia 23, e naquela data Kalil nomeou o interventor Juliano Marçal Rosa Júnior, para permanecer no cargo até 31 de dezembro, último dia de seu mandato na prefeitura. Também no dia 23, o desembargador Gilberto Giraldelli, do Tribunal de Justiça, revogou a prisão do vereador, mas manteve seu afastamento e lhe impôs algumas medidas cautelares. De Rondonópolis, Pablo Pereira seguiu para Várzea Grande e foi recebido por uma multidão que o carregou nos braços em seu comitê de campanha.
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Gota D’Água nasceu de uma denúncia feita em 2022 pelo presidente do DAE, Carlos Alberto Simões de Arruda, que a fez após revelar os fatos a Kalil, que determinou que os mesmos chegassem ao conhecimento da Polícia Civil.
ROMBO – No curso de Gota D’Água a Deccor revelou que desde o início do esquema no DAE, em 2019, o rombo em seus cofres foi de 11,3 milhões, mas não apresentou documentos nem parâmetros para se alcançar aquela cifra.
REAÇÕES – A operação foi um prato cheio para a oposição municipal. O candidato a prefeito Miltão (PSOL/Rede) ironizou. Disse que a máfia (no DAE) é grande e que eles conseguiram prender apenas um. Flávia Moretti (PL), candidata a prefeita, debochou afirmando que a operação era esperada.
Pablo Pereira foi afastado do cargo na manhã da sexta-feira, e duas horas depois o presidente da Câmara, Pedrinho Tolares (União), sem ouvi-lo e atropelando o regimento do Legislativo, anunciou na data que convocaria o suplente Valdemir Bernardino da Silva, o Nana (União) para assumir a cadeira de Pablo Pereira na terça-feira (24). Porém, com a mesma rapidez com que se lançou contra o colega, recuou e não disse por qual razão.
Pedrinho Tolares e Pablo Pereira são correligionários e o presidente da Câmara é candidato a vice-prefeito na chapa de Kalil, que tenta a reeleição.
Na Câmara reina silêncio ensurdecedor e nenhum vereador ousa tocar na possibilidade da instalação de uma CPI para passar o DAE a limpo. O prefeito Kalil fatiou aquela autarquia. Pablo Pereira não esconde que indicou quatro cidadãos para cargos comissionados, mas salienta que nenhum exerceu ou exerce cargo de direção, chefia ou coordenação, “todos estão lotados em funções subalternas, humildes”, observou.
O que acontece no DAE quanto a cargos comissionados é o mesmo que se vê nas prefeituras, câmaras, órgãos públicos, Assembleia Legislativa, Tribunal de Contas do Estado e na bancada federal, inclusive com o chamado nepotismo cruzado. Em Mato Grosso prevalece a máxima: quem ajuda a eleger ajuda a governar (ou legislar). Porém há uma grande diferença entre garantir uma nomeação e tirar proveito ilícito da mesma.
Pablo Pereira assegura que os indicados por ele nunca fizeram de suas funções ferramenta para cooptação de votos para ele, e que os mesmos não tinham poder de decisão no DAE. O vereador, no entanto, pondera que em razão do período eleitoral, naturalmente as figuras ligadas aos meios políticos às vezes se excedem no entusiasmo em defesa desses ou daqueles aos quais são ligados.
HISTÓRICO – Pablo Pereira é Pablo Gustavo Moraes Pereira, tem 44 anos, é advogado e exerce seu primeiro mandato eletivo. Na vida pública foi secretário municipal de Administração de Várzea Grande no governo de Lucimar Campos, respondendo por um orçamento anual de 1,2 bilhão e exerceu o cargo com a maior lisura.
Segundo Pablo Pereira, sua maior aproximação com o DAE é por meio da Lei 4.842, de 2021, que faculta àquela autarquia fornecer os materiais necessários para a primeira ligação de água, e que o consumidor pode quitá-los em parcelas mensais embutidas na tarifa mensal. “É uma lei de grande alcance social, que vigora desde o começa da minha legislatura e não tem conotação política”, observa o vereador.
Pablo Pereira lamenta o envolvimento indevido de seu nome e credita essa situação ao momento político dado sua condição de candidato chamado de puxador de votos. O vereador acredita que a conclusão do inquérito será suficiente para esclarecer a verdade dos fatos, e sustenta que não guarda mágoas por entender que lamentavelmente ainda há muito jogo sujo na política. “Tenho a consciência tranquila. Nunca aceitei um centavo sequer de propina, nunca lancei mão de expediente espúrio para angariar votos”, resumiu.
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