VULTOS MATO-GROSSENSES – Zé do Pátio

Com 24 anos e uma Maleta 007 recheada com diplomas universitários, mas desempregado. Era começo de 1983 e José Carlos Junqueira de Araújo procurava um rumo na vida. Chegou a pensar em articular um cargo na Prefeitura de Ji-Paraná (RO), onde um rondonopolitano se destacava, mas desistiu por uma boa causa. Seu pai, o Miranda (dentista Altamirando de Araújo Miranda) – sem trocadilho com a profissão – conseguiu uma boca para o filho, que acabava de desembarcar em Rondonópolis formado em engenharia civil, matemática e inglês. Além de ser oficial R/2, como ele faz questão de destacar.
Com o filho desempregado, Miranda bateu à porta do prefeito Carlos Bezerra (PMDB), seu amigo de longa data e que acabara de assumir o cargo. Pediu emprego para o menino. Foi pra casa feliz: você vai ser o chefe do Pátio de Máquinas da Prefeitura. Consegui com Bezerra – disse radiante.
A função do contratado era cuidar do pátio e atender os encaminhamentos do chefe Bezerra que ora os fazia por meio de bilhetes ora por telefone e até pessoalmente.
Bezerra estava de olho no Palácio Paiaguás (o conquistaria em 1986) e atendia a todos, indistintamente. Quando procurado pra patrolar rua, tirar entulho, resolver problema de vazamento de fossas nas vias públicas e outras demandas parecidas, ele não vacilava e apontava o endereço certo para a solução: vá ao Zé Carlos – dizia. O atendido não sabia de quem se tratava e Bezerra explicava quem era: é o Zé do Pátio. Vá nele, leva meu bilhete e pronto.
Zé do Pátio pra um, pra dois, pra 10, pra 100 pra mil, pra milhares. Pronto! O José Carlos Junqueira de Araújo saiu de cena e entrou o Zé do Pátio.
Da função pra política não foi preciso nem um passo, porque ela estava nele e ele nela. Virou vereador eleito em três legislaturas consecutivas. Foi deputado estadual em quatro mandatos, mas interrompeu dois para ocupar o cargo de prefeito, para o qual foi eleito em 2008 e 2016. Também sofreu revezes disputando a prefeitura e até mesmo após ser eleito e empossado: em julho de 2012, faltando cinco meses para completar o mandato, foi cassado por crime de abuso de poder econômico na campanha – mandou fazer 500 camisetas temáticas para delegados e fiscais vestirem no dia da votação, mas a estamparia fez 538 – por 38 camisetas a mais perdeu o mandato. Em 2014 foi eleito deputado pela quarta vez e após a posse a mesma Justiça Eleitoral que o condenou o absolveu. Por enquanto, sua última proeza nas urnas foi vencer o pleito para prefeito em 2016, pela legenda do Solidariedade, depois de muitos anos filiado ao PMDB, que trocou a sigla pra MDB.
Paranaense de Londrina, mas de família rondonopolitana, Zé do Pátio é professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat). Todos os dias, de todas as semanas, de todos os meses e de todos os anos ele está sob o crivo da Justiça por questões relacionadas à sua administração. Parece-me que o Ministério Público teima em judicializar o exercício de cargo eletivo.
Falante, sempre se expressando com rapidez e alto, sem ficar quieto um segundo sequer, Zé do Pátio é chamado por alguns – à distância – de Menino Maluquinho.

RESUMO – Pra agradar Altamirando, Bezerra deu emprego ao seu filho. Para facilitar sua identificação passou a chamá-lo Zé do Pátio. Conscientemente ou não um dos maiores caciques da história política mato-grossense deu a função certa e o apelido ideal para popularizar o apelidado. Assim, nasceu Zé do Pátio, que em 6 de fevereiro de 2019 entrou para a terceira idade carregando a responsabilidade de administrar o principal município do agronegócio brasileiro, Rondonópolis.
PS – Sou grato a Zé do Pátio, que em 5 de dezembro de 1997 enquanto vereador concedeu-me o honroso Título de Cidadão Rondonopolitano.
Eduardo Gomes – blogdoeduardogomes
FOTOS:
1 – Arte Marcão sobre foto do Site público da Assembleia Legislativa em arquivo
2 – Dinalte Miranda
Comentários estão fechados.