Zé Pedro e a câmera espiã
Meus amigos, meus inimigos: o governador Zé Pedro Taques assinou a exoneração do sargento João Ricardo Soler, do cargo em comissão que ocupava na Casa Militar. Soler foi preso por determinação do desembargador Orlando Perri e acusado de participar do esquema de interceptações telefônicas clandestinas, operadas pela PM.
“Soler é integrante do grupo criminoso detentor do conhecimento de equipamentos de espionagem, e, em liberdade, continuará operando para o grupo criminoso, podendo causar embaraço à lisura na apuração dos fatos”, destacou Perri, na mesma decisão que autorizou a prisão de Paulo Taques, do delegado Rogers Jarbas, do coronel Siqueira, durante a Operação Esdras.
Ora, se Zé Pedro Taques exonerou o Soler é porque ficou evidente por demais, até mesmo para o governador, o envolvimento do sargento na trama dos grampos ilegais. Já não se trata mais de falar daquelas interceptações feitas, no passado, contra a amante do Paulo Taques, a deputada Janaina, o advogado José do Patrocínio. Trata-se agora de nos espantarmos ao ver que os integrantes da pretensa quadrilha não tiveram o pudor de grampear e gravar, há poucas semanas, o próprio desembargador Orlando Perri, na tentativa de conseguir algum tipo de fala que pudesse justificar pedido de impedimento, junto ao Judiciário, para afastar o magistrados das investigações que tanto os incomoda.
Quando se fala na pretensa quadrilha agora denunciada, estamos falando, é claro, em Paulo Taques, no coronel Siqueira, no coronel Lesco, na sua esposa Helen, no delegado Jarbas, de toda esta turma à qual o governador Zé Pedro Taques, anteriormente, dedicara tantos elogios, tantas rasgadas declarações de amor incondicional.
Ora, a paixão do governador por essa gente era tanta que chegou mesmo a lançar suspeitas sobre as iniciativas que Perri adotara contra eles e a anunciar processo no CNJ contra o desembargador. Mas como o que é fica o Zé Pedro, depois das revelações do tenente-coronel José Henrique Soares quando à instalação, em seu uniforme, de câmera espiã para gravar Perri? Será que não está também evidente, para o governador, com toda experiência que alardeou, ao que dizer que não era um idiota, quem orientou Soler nesta patifaria?
Enock Cavalcanti, jornalista, advogado e blogueiro, é editor de Cultura do Diário de Cuiabá
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